O Dia que o Senhor fez para nós

O dia em que o Senhor Jesus ressuscitou dentre os mortos foi o primeiro da semana, dia depois do sábado conforme a semana na tradição judaica e bíblica. As manifestações do Ressuscitado aos apóstolos também se deram, geralmente, no primeiro dia da semana, que passou a ser chamado “dia do Senhor”: do Senhor Jesus ressuscitado e presente no meio dos seus. Da forma latina Dies Dominica, chegou-se à forma “Domingo”, que conhecemos.

Na tradição do Antigo Testamento, o Sábado era o dia consagrado “em honra do Senhor”, para contemplar suas maravilhas na criação e para louvar e adorar o Deus Criador e Salvador. O conceito do “dia do Senhor” ganhou uma conotação própria nos Profetas e nos Salmos, que também foi acolhida no Novo Testamento e na tradição cristã: o Dia do Senhor é anunciado como dia da manifestação da intervenção especial de Deus em favor do seu povo (cf Is 2,12ss), quando Deus novamente restaurará a ordem e a paz à criação e ao homem (cf Is 11,10; 29,18) e manifestará seu poder e julgamento (cf Is 13,9; 34,8; Ez 30,1-3). Os profetas anunciam a proximidade do Dia do Senhor, convidando o povo ao arrependimento e à conversão. Jesus também previne os discípulos: “Aquele dia não caia sobre vós como um ladrão” (Lc 21,34). E afirma que Abraão “alegrou-se por ver o seu dia” (cf Jo 8,56).

São Paulo anuncia que o “tempo favorável, o dia da salvação” (1 Cor 16,2; 2 Cor 6,2) corresponde ao tempo da evangelização, convidando os fiéis a perseverarem “até o dia de Cristo” (Fp 1,6). A Timóteo, ele exorta a guardar o bom depósito da fé “até aquele dia” (1Tm 1,12). Para os cristãos, o Domingo passou a ser identificado como o Dia de Deus, da maravilha das maravilhas de Deus, que foi a ressurreição de Cristo e da vitória sobre a morte; dia em que a existência humana, a história e a inteira criação ganharam um horizonte novo, mostrando o que Deus tem para suas criaturas desde o início da criação: dar-lhes participação na sua glória sobrenatural. A eternidade já irrompeu no tempo, o sobrenatural, no natural, o divino, no humano. Bem que podiam exclamar com as palavras do salmista: “Este é o Dia que o Senhor fez para nós! Alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 118,24).

É por isso que a Igreja nos convoca, aos Domingos, a celebrarmos o Dia do Senhor ressuscitado no meio de nós, narrando suas obras mediante as leituras da Escritura, fazendo, sobretudo, o “memorial” da Ceia do Senhor, de sua Paixão, Morte e Ressurreição, “até que Ele venha de novo em sua glória”. A Missa dominical, para os católicos, é o modo de valorizar o Dia do Senhor, de tomar consciência de suas maravilhas, de adorar, louvar, agradecer, pedir perdão e receber novas graças de Deus. Muito mais que um “dever”, embora o seja também, a Missa dominical é um imenso privilégio e ocasião para nos alegrarmos na companhia de Jesus Cristo, presente entre nós, e também com os irmãos e irmãs que partilham conosco a mesma fé e herança espiritual. É o momento em que, mais claramente, nos sentimos parte da Igreja, membros do povo de Deus, no qual desaparecem as distinções sociais, raciais e culturais. Somos todos filhos queridos do Pai celeste, que nos reúne ao redor de Jesus Cristo, nosso Irmão e Mediador, no dom do Espírito Santo, da comunhão e da unidade.

Infelizmente, a Missa dominical ainda é pouco compreendida entre os católicos e, por isso, pouco se dá valor a ela. Que pena! O sínodo arquidiocesano constatou que apenas 6% dos católicos de São Paulo frequentam regularmente a Missa dominical; outros 25% dela participam de vez em quando. Mas 70% dos católicos não frequentam a Missa, o que é muito preocupante. Como podem receber o básico do básico da fé e da vivência cristã e da vida da Igreja, sem participarem desse momento tão importante na vida de todo aquele que crê em Jesus Cristo e na Igreja? Certamente, precisamos falar mais do significado e valor da Missa dominical, que representa o momento alto da semana para cada católico. Sem a tomada de consciência do problema, e sem falar dele, não serão dados passos para melhorarmos a participação na Missa dominical.

Dirá alguém que ir à Igreja aos Domingo não é tudo na vida do católico, e eu estou de acordo. Mas também respondo: sem essa participação, tudo o mais vai se perdendo e desaparecendo bem depressa. A ausência da frequentação da Missa dominical tem como consequência o esfriamento na fé e no fervor cristão, o distanciamento e isolamento em relação à comunidade de fé, a desorientação e insegurança nas convicções religiosas e morais. E perde-se a alegria da fé, que se cultiva no testemunho partilhado e recebido dos irmãos no caminho da fé.

Que fazer, pois? É tempo de rever as prioridades em nossa vida: O que tem a precedência em nosso programa dominical? Nossa fé e adesão a Cristo e à Igreja significam alguma coisa para nós ou apenas recebem uma atenção bem secundária? Domingo é dia de Deus, de alegrar-se em Deus, de renovar a fé e a confiança, de colocar nas mãos de Deus também nossas dores, angústias e esperanças, bem como as de nossos irmãos. É dia de acolhermos sempre de novo o envio em missão, fortalecidos pelos dons que recebemos na celebração da Missa.

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