O Espírito Santo e a Igreja

No último domingo, encerramos o ciclo do Tempo Pascal com a Solenidade de Pentecostes, e o derramamento do Espírito Santo em línguas de fogo sobre os apóstolos e a Virgem Santíssima, reunidos no cenáculo. Trata-se de uma boa ocasião para revisitarmos algumas verdades importantes de nossa fé sobre o papel do Espírito Santo na condução da Igreja de Cristo ao longo da história – especialmente porque vivemos, neste Tempo Pascal, a marcante experiência do falecimento de um Papa e a eleição de seu sucessor.

Nesse sentido, podemos pensar nos eventos de Pentecostes como o grande modelo da missão que a Igreja viria a assumir ao longo dos séculos. Cristo já subiu aos céus; seus discípulos acreditam firmemente que Ele é o Filho de Deus, que morreu e ressuscitou por nós – mas ainda estão com as portas fechadas, com medo de serem perseguidos pelos inimigos da fé. Até que vem o Paráclito, o Espírito Consolador, e os apóstolos, outrora tímidos, se enchem da santa audácia, e põem-se a anunciar ao mundo inteiro, com línguas de fogo, o Evangelho de Jesus. Pois bem: é neste mesmo ardor que se inspira toda a atividade missionária da Igreja, que ao longo de dois milênios tem se esforçado para levar este Evangelho ao mundo inteiro.

A atuação do Espírito Santo na Igreja, porém, vai além de sustentar o esforço missionário: Ele também é quem recorda à Igreja os ensinamentos de Jesus, e garante “a continuidade e identidade de compreensão dessa mensagem, no meio das condições e circunstâncias mutáveis. Por conseguinte, o Espírito Santo fará com que perdure sempre na Igreja a mesma verdade, que os Apóstolos ouviram do seu Mestre” (São João Paulo II, Dominum et vivificantem 4). A fé católica de 2025 é a mesma que em 1925, em 325 ou em 125: ela é, nas palavras do Papa, “o tesouro que a Igreja, por meio da sucessão apostólica, guarda, aprofunda e transmite há dois mil anos” (Homilia da Missa Pro Ecclesia, em 9 de maio).

Além de sustentar o esforço missionário da Igreja e de garantir a preservação intacta do Depósito da Fé confiada por Cristo, o Espírito Santo também protege a Igreja ao longo dos percalços pelos quais ela passa em sua caminhada na história: das arenas do império romano até os campos de concentração comunistas, não faltaram regimes políticos que tentaram acabar com a Igreja, mas ela sempre prevaleceu, apesar de todas as aparências de derrota.

Essa assistência divina do Espírito Santo à Igreja, contra a qual as portas do Inferno não prevalecerão (cf. Mt 16,18), não significa, no entanto, que a Igreja nunca possa passar por momentos turbulentos e difíceis. Da mesma forma, ao longo de toda a história da salvação, o Povo de Deus enfrentou, muitas vezes, situações de aparente derrota – e a Providência amorosa de Deus, que permitia esses percalços, no final sempre acabava mantendo sua fidelidade e evitando a ruína, mesmo quando tudo parecia perdido. Assim, Deus permitiu que o povo sofresse a escravidão do Faraó no Egito, para libertá-lo no Êxodo; ou ainda, Deus permitiu a destruição do Templo de Jerusalém e o exílio à Babilônia, para depois restaurar o resto que sobrara do povo eleito.

Peçamos, então, ao Espírito Santo que atue em nosso coração da mesma forma com que atua na Igreja em geral. Que Ele reacenda em nós o espírito missionário, para darmos a este mundo as razões da esperança que habita em nosso peito (cf. 1Pe 3,15). Que Ele nos ajude a sermos fiéis guardiões da Fé da Igreja, buscando conformar a nossa vida e a nossa mentalidade a ela, em vez de conformá-la aos nossos caprichos. E que, por fim, nos ensine a confiar sempre na promessa de assistência à Igreja, por mais que possamos passar por momentos de aparentes derrotas ou frustrações!

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