Continuando nossa sequência de meditações do mês das vocações, gostaríamos de refletir, nesta semana em que comemoramos o Dia dos Pais, sobre a vocação matrimonial – este grande sacramento pelo qual um homem e uma mulher se tornam imagem do amor fecundo entre Cristo e a Igreja, e constroem sua família como uma igreja doméstica (cf. Lumen gentium, n. 11).
O primeiro ponto a chamar a atenção aqui é a própria expressão vocação matrimonial: o Matrimônio é uma verdadeira vocação, ou seja, um meio real de santificação, de nos retirar de nosso próprio egoísmo em favor de algo maior.
Isso acontece nas coisas mais ordinárias da vida a dois: na mulher que tem sono leve e tem de aguentar o ronco do marido; no marido que adora ver seu futebol, mas tem de perder um jogo para ir a um evento importante da família… Se São Bento dizia que a vida monástica era Schola Dominici Servitii, “escola do serviço ao Senhor”, o mesmo pode ser dito da vida matrimonial bem vivida: é uma escola de amor.
Para que o Matrimônio frutifique, portanto, os cônjuges precisam enxergar esta verdade fundamental sobre a vida: eu não me pertenço, o sentido da minha vida não é conseguir todos os meus caprichos: eu existo em função de algo maior. O marido existe para a mulher, e a mulher existe para o marido – e esta entrega mútua é o maior antídoto ao egoísmo que nos impede de amar.
E, no entanto, há ainda mais um passo a ser tomado: pois, se o sentido da vida não é agradar ao próprio eu, este sentido tampouco consiste simplesmente em agradar um outro ser humano que, por melhor que seja, ainda é falível e pecador. E aqui chegamos à chave da questão: a entrega de amor ao cônjuge faz sentido porque encarna uma maneira concreta de amar a Deus.
É por isso que Jesus diz que o segundo mandamento, de amor ao próximo, “é semelhante ao primeiro”, de amor a Deus (cf. Mt 22,35-40) – pois a nossa forma concreta de manifestar nosso amor a Ele é por meio do serviço amoroso aos irmãos.
E além de ajudarem um ao outro a ir ao céu, os cônjuges têm um profundo impacto na vida de outras pessoas, e da sociedade como um todo. A começar pelos filhos, que Deus confia aos cônjuges, para educá-los e serem os primeiros anunciadores da fé, e de valores como a justiça, a liberdade, o respeito e o amor.
Mas o impacto positivo do Matrimônio não se limita ao círculo das próprias pessoas que compõem a família: pelo contrário, seus efeitos se espraiam por todo o tecido social. Muitas vezes, acontece que um jovem, que infelizmente não pôde testemunhar em seu próprio lar um ambiente familiar estável e amoroso, acaba conhecendo, na família de um amigo, uma grande motivação para constituir, ele próprio, uma família. Como dizia São João Paulo II, ao acolherem com generosidade os filhos que Deus lhes manda e buscarem criar uma comunidade íntima de confiança e amor, os cônjuges colocam-se a serviço da Igreja e da sociedade (cf. Familiaris consortio, n. 50).
É verdade que nosso mundo coloca hoje muitos desafios à família: os índices de divórcio, de matrimônios frustrados, de desarmonias domésticas em geral nunca estiveram tão altos. Mas este cenário é um motivo a mais para nos incentivar, cristãos, a buscarmos construir em Deus nossas famílias, e testemunhar ao mundo a alegria profunda que o Matrimônio pode trazer.
Como naquela bela “Oração pela Família” do Padre Zezinho, rezemos todos: “Que a família comece e termine sabendo aonde vai, e que o homem carregue nos ombros a graça de um pai; que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor, e que os filhos conheçam a força que brota do amor!”.