Qualquer um é capaz de olhar o mundo e perceber que as coisas não vão bem. Guerras, injustiças, fome…, mas, ao mesmo tempo, é difícil imaginar como chegamos até aqui, afinal ninguém acorda de manhã pensando em iniciar uma guerra ou causar a fome. Até o mais vil dos homens reserva para seus filhos algum tipo de cuidado.
Ao mesmo tempo, nunca vivemos tanto, nunca tivemos tanto conforto. Nem mesmo nossos pais poderiam imaginar que um dia conseguiríamos comida sem sair do sofá ou um transporte ainda antes de sair de casa.
Acostumamo-nos com o “bem-bom”, tornamo-nos preguiçosos, ficamos “moles”. Demos prioridades às nossas vontades, baseamos nossas opiniões filosóficas em nossos gostos pessoais e queremos que o mundo seja julgado segundo os nossos sentimentos, afinal, cada um tem a sua própria “verdade”.
A paternidade se tornou nossa inimiga; nossa família, opressora. Tornamo-nos amigos apenas daqueles que sentem as mesmas coisas que nós. Não há quem nos contradiga, não aceitamos quem nos anteponha. Sabemos o suficiente, ninguém pode nos ensinar.
A maternidade, ah, a maternidade! Em um dia ela é um direito inalienável, “vale tudo para consegui-la”; no outro, uma escolha unilateral “mate-se quem for preciso para evitá-la”.
Não há aprendizes, somente sábios. Todos formados e pós-graduados na faculdade do “ouvi dizer”. Comenta-se sobre todas as coisas com a profundidade de uma manchete dúbia, cujo conteúdo contraditório ninguém “teve tempo” de ler.
Crenças não são mais uma preocupação, apenas o sentimento é o que importa. Os valores são essas coisas que impedem o nosso progresso, e a história é aquela parte da vida de toda a humanidade que precisamos reescrever.
Em uma sociedade de ressentidos, não se fala mais em erros. O arrependimento é como que um palavrão, e o perdão é aquele último recurso dos mais fracos, exigido por aqueles que reclamam alguma reparação.
Nesse mar de palavras e definições sem sentido, não há inocentes. Só há vítimas e culpados. Ninguém é responsável por nada, os culpados são sempre os outros. E se não for possível culpar alguém próximo, culpemos, então, alguém das gerações anteriores.
Resolvemos dar um “big reset”, aquela que seria a solução para recomeçar um mundo melhor, mas esquecemos que quando nos religamos, começamos totalmente do zero. Como um computador que ao ser ligado está vazio, não tem memória do passado, não tem instruções para o futuro.
Enquanto o cursor do tempo pisca na tela do mundo, não sabemos o que fazer. Não há comandos para seguir, não há ícones para clicar. Apenas um vazio e um olhar catatônico, esperando para ver o que vai acontecer.
Mas quando tudo parece perdido, nos vemos novamente diante do Natal. E o mundo, como aquele velho computador, deveria aproveitar esse “reset” para recarregar aquele “velho e bom” sistema operacional de fábrica, e recomeçar do ponto quando tudo funcionava.
Nessa nova e antiga versão de nós mesmos, teríamos reabilitado em nós a lei natural. Aquela que Deus primeiro inscreveu em nós e somente depois a colocou nas tábuas, escrita para nos ajudar a lembrar.
Com a lei natural, todo o ordenamento do mundo estaria de volta. As guerras não fariam sentido e as injustiças algo de gente louca.
Isso traria de volta à moda aquela que tanto faz falta aos homens de exatas como eu: a lógica. Os argumentos filosóficos voltariam a fazer sentido e as posições ideológicas voltariam a ter coerência.
Depois, mas não por último, teríamos colocado a família no seu devido lugar sagrado. Com ela, retornaria o respeito à paternidade e à maternidade, e, como consequência, teríamos conquistado novamente a alegria em participar da obra da criação.
O passado voltaria a ser considerado como o aprendizado necessário, os mais velhos como a fonte da sabedoria e os sábios seriam aqueles poucos que realmente sabem o que não sabemos.
E, como consequência natural, nós nos voltaríamos ao “fabricante”, nosso Criador, afinal, a marca desse nosso “sistema operacional” é a cruz.
O amor voltaria a andar de mãos dadas com a verdade, e todos desejaríamos estar para todo o sempre diante do Amor (com A maiúsculo) e da Verdade (com V maiúsculo).
É isto que é o Natal: uma oportunidade que recebemos todos os anos. Como que um botão que espera para ser pressionado, pronto para mudar a vida do mundo. Exatamente como Jesus fez há 2 mil anos, quando o Criador tomou a atitude mais inesperada de todos os tempos, saiu da eternidade e entrou no tempo.
Feliz Natal! É hora de permitir que Deus entre novamente no nosso tempo e na nossa realidade, pois só assim podemos voltar a ser o que já fomos um dia: a obra prima da criação.