O perfil mariano da Igreja

Sergio Ricciuto Conte

O perfil petrino da Igreja lembra Pedro, com sua dimensão hierárquica e institucional; o paulino, do Apóstolo Paulo, é o da difusão da mensagem cristã e que rompe com o passado judaico. O joanino traz a mensagem do amor, da unidade e da contemplação; o jacobita, projeta a figura de Tiago, substituto de Pedro quando este deixou Jerusalém, representando a tradição.

Esses princípios enriquecem a Igreja, não de modo isolado, mas participando um do outro, sendo que, para articular e unir estas dimensões, é essencial o papel exercido pelo perfil mariano. No princípio mariano, temos a mãe, a esposa, a colaboradora de Cristo na rendenção e a sua função na unidade da Igreja. 

Maternidade Divina, a Virgindade Perpétua de Maria, a Imaculada Conceição e a Assunção de Maria são os Dogmas Marianos da Igreja. No Concílio de Éfeso (ocorrido no ano 431), foi aclamada como “Theotókos”, palavra grega que quer dizer: “Mãe de Deus”.

O teólogo Hans Urs von Balthasar enfatizou que o perfil mariano é a presença de Maria nos carismas, nas famílias religiosas, nos movimentos eclesiais e em novas comunidades. Traz esta característica materna para a Igreja que é edificada sobre os apóstolos, representados pelos Papas – seus sucessores –, mas também sobre Maria, sendo que ambos conduzem a Igreja à santidade. 

Maria faz parte do mistério da Trindade e nos faz descobrir uma missão específica, como cooperadores da missão do Salvador. Maria participa na Comunhão Trinitária, como nos lembra o Papa Francisco na oração do Angelus em 7 de junho de 2020, quando confirma Maria como “a morada da Trindade”. Olhando a Igreja a partir de Maria, deparamo-nos com a mãe que gerou Cristo, e hoje articula e conduz a Igreja à unidade.

Existe a necessidade da coexistência dos princípios para que a organização, hierarquia, respeito às leis e tradição possam ser animados pelo frescor de novos carismas e do aspecto mariano, para que a Igreja caminhe com equilíbrio na vivência do amor trinitário.

São inúmeros os momentos de Maria na vida da primeira comunidade cristã, desde a Anunciação, quando ela diz o seu sim, que representa o nosso sim, acreditando no amor e se entregando à vontade de Deus. Demonstra, ainda, a sua solidariedade com a visita à prima Isabel, fazendo ecoar o belo canto do Magnificat.

Capacidade de repartir e distribuir a graça recebida, ensinando-nos a importância do sofrimento na obra da Salvação. De fato, a presença de Maria aos pés da cruz, nos faz recordar sempre que, com a nossa vida, completamos o que falta à Paixão de Cristo e nos tornamos partícipes deste momento de redenção. O papel relevante da presença de Maria no Cenáculo, em Pentecostes, na “fundação” da Igreja, nos leva ao novo, ao inusitado, possibilitando-nos “estar” na comunidade primitiva.

Chiara Lubich – fundadora do movimento dos Focolares –, em Londres, em 16 de junho de 2004, no College Saint Mary’s da Universidade de Surrey fala sobre o carisma da unidade e o perfil mariano da Igreja:

“Sendo o perfil mariano tão importante na Igreja (…) homens, mulheres, jovens e adultos, sacerdotes, religiosos e bispos podem modelar-se hoje em Maria, imitando-a, aliás, de certo modo, ‘revivendo-a’ para torná-la presente – na medida do possível – na terra.” 

“No mundo ocidental, por exemplo, existe uma busca pela autorrealização, que na verdade se concentra mais em ter do que em ser. Em termos concretos, esta forma de ver as coisas se traduz sobretudo numa necessidade de bem-estar e liberdade em todos os campos: uma visão bastante limitada e arriscada das coisas.”

“Eis, então, Maria que – por meio da ‘espiritualidade da unidade’ ou ‘de comunhão’ – fala ao coração dos homens de hoje e os convida a não fazer do bem-estar e dos ideais fúteis e passageiros o objetivo primordial de suas vidas, mas a fazer de Deus, tal como Ela fez, o ideal pelo qual viver.”

Luiz Antonio Araujo Pierre é membro do movimento dos Focolares, professor e advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pós-graduado em Gestão de Pessoas e especialista em Direito do Trabalho.

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Jcyrilo@yahoo.com.br
Jcyrilo@yahoo.com.br
2 anos atrás

parabéns pela publicação! Acho que o perfil Mariano coloca as mulheres num patamar mais alto da Igreja que é o Amor.!!! Lembrando São Paulo :
1 Coríntios 13
1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine……
Mas, entendo tb, que os homens, podem imitar Maria “que conservava todas estas coisas no seu coração, meditando-as”…

Klaus Brüschke
Klaus Brüschke
2 anos atrás

Penso que o perfil mariano da Igreja, estudado por von Balthasar e magnificamente sintetisado neste artigo de Pierre, seja de uma grandíssima atualidade para a Igreja e também para a sociedade atuais. Pois ajuda a compreender o que é ser Igreja numa época em que a concepção hierárquica da sociedade (e com ela, também da Igreja) é posta em xeque. Como o artigo evidencia, o perfil mariano ajuda a compreender o fenômeno dos novos movimentos e comunidades, que recentemente receberam uma especial e amorosa atenção do Papa Francisco. E pode oferecer uma chave de leitura e de ação no caminho sinodal que o Papa evidencia. Enfim, requer ser conhecido e meditado.