O mundo continua horrorizado diante das tragédias que se repetem em zonas de conflito. Em Gaza, centenas de civis, incluindo crianças, foram mortos em ataques que atingiram até mesmo hospitais e igrejas. A devastação da Ucrânia continua. É até difícil oferecer um número preciso, porém estima-se que temos hoje cerca de 50 conflitos armados, de diferentes proporções, espalhados pelo mundo. As justificativas, mesmo quando significativas, não mudam o fato de que, ao aceitarem a guerra como instrumento, os envolvidos assumem tacitamente que inocentes serão sacrificados. Como lembrou o Papa Francisco: “Com a guerra tudo se perde, tudo se perde. Não há vitória em uma guerra: tudo é derrotado.”
Essa lógica brutal, que transforma vidas humanas em danos colaterais, continua a se espalhar. Com Leão XIV, a Igreja Católica continua a denunciar a barbárie da guerra e clamar pela paz. Em sua primeira bênção Urbi et orbi, reforçou essa visão: “Esta é a paz de Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz que desarma, que é humilde e perseverante. Que vem de Deus, do Deus que nos ama a todos incondicionalmente.” E acrescentou: “Devemos buscar juntos como ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, dialoga, sempre aberta para receber com os braços abertos”. Após o ataque à única igreja católica em Gaza, o Papa declarou: “Mais uma vez, peço que se ponha, imediatamente, termo à barbárie da guerra e que se encontre uma solução pacífica para o conflito”. Ele também tem condenado o uso indiscriminado da força e o deslocamento forçado de populações, apelando à comunidade internacional para que respeite o direito humanitário e proteja os civis.
O século XX, após ver duas guerras mundiais, experimentou um período no qual as principais nações pareciam conscientes do valor da paz e comprometidas com sua realização. O século XXI, contudo, viu o recrudescimento de uma lógica de poder, movida a ressentimento e raiva, que legitima a truculência, considerada a única forma de preservar a própria identidade e os direitos fundamentais. Como alertou Bento XVI: “No âmbito da consciência ética e da decisão moral, não há tal possibilidade de adição, simplesmente porque a liberdade do homem é sempre nova e deve sempre, de novo, tomar as suas decisões.” (Spe salvi, SS 24).
Essa lógica de poder não está restrita aos líderes mundiais ou aos grupos extremistas. Ela se infiltra em nossas comunidades, nas redes sociais, nas conversas cotidianas. Quantas vezes não ouvimos – ou pensamos – que quem discorda de nós deveria ser silenciado com violência? Ou, ainda pior, “bandido bom é bandido morto”? A tentação de garantir o bem pela força é sutil, mas perigosa. Não se trata de uma posição ingênua, em um deixar-se destruir pelos violentos. São João Paulo II explicava que se trata de responder ao mal com o bem… Um ideal exigente, que implica amor, coragem e inteligência, mas factível, com a graça de Deus.
Rejeitar a violência e resistir à sedução do poder são tarefas diárias. Os efeitos podem não se fazer sentir imediatamente, mas esse ainda é o melhor caminho para garantir o bem comum. Como disse Leão XIV: “Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos de mãos dadas com Deus e uns com os outros, sigamos em frente! Somos discípulos de Cristo. Cristo vai à nossa frente. O mundo precisa da sua luz…”