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O que é a fé? 

“A fé é a resposta do homem a Deus que se revela e a Ele se doa, trazendo, ao mesmo tempo, uma luz superabundante ao homem em busca do sentido último de sua vida” (Catecismo da Igreja Católica – CIC 26). 

No início, para falarmos de fé, precisamos ter em mente que falamos da relação do homem com Deus. O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus. Mas esta união íntima com Deus pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada, explicitamente pelo homem, principalmente por uma revolta contra o mal no mundo, a ignorância ou indiferença religiosa, as preocupações com as coisas do mundo e as riquezas, mau exemplo dos crentes, correntes de pensamentos hostis à religião e, finalmente, a atitude de pecador que, por medo, se esconde diante de Deus e foge diante de seu chamado. Se o homem pode se esquecer de Deus e rejeitá-Lo, este, de Sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-Lo, para que viva e encontre felicidade. Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e amar a Deus, o homem que procura a Deus descobre certas vias para aceder ao conhecimento de Deus. Estas vias têm como ponto de partida a criação: o mundo material e o próprio homem. A vida do mundo acontece a partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo. Nela, pode-se conhecer a Deus como origem e fim do universo. O homem como própria via, por sua vez, com sua abertura à verdade e à beleza, com senso do bem moral, com sua liberdade e a voz de sua consciência, com sua aspiração ao infinito e à felicidade, se interroga sobre a existência de Deus. Mediante tudo isso, percebe sinais de sua alma espiritual, ou seja, sua alma não pode ter origem senão em Deus. 

Assim, a fé é uma adesão ao mistério, é decidir estar com Senhor, viver com Ele. E este “estar” com Ele introduz na compreensão a fé como um dom de Deus, o que nos faz crer que não alcançamos a fé simplesmente por meio de nossos esforços ou inteligência. A fé é o próprio Deus que se abre a nós, que vem ao nosso encontro, que se revela a nós. 

No entanto, a fé é uma decisão pessoal real por parte daquele que crê. Então, fé é um ato pessoal; é a resposta livre do homem à iniciativa de Deus que se revela. Ela não é, porém, um ato isolado: ninguém pode crer sozinho, assim como ninguém pode viver sozinho. Ninguém deu a fé a si mesmo, assim como ninguém deu a vida a si mesmo. O crente recebeu a fé de outros, por isso, deve transmiti-la aos outros (Catecismo da Igreja Católica – CIC 166). O próprio Deus nos dá a possibilidade de tomar uma decisão verdadeiramente pessoal; e a decisão que tomamos com base na possibilidade dada por Deus é particularmente a decisão livre, pessoal de cada um de nós. A decisão não deve ser tomada entre ter um Deus e não ter um Deus. A escolha deve ser feita, antes, entre crer no único Deus vivo e verdadeiro ou crer em um ou mais falsos deuses, aos quais se soma o próprio ego. 

Fé é também liberdade. Ter fé é libertar-se cada vez mais da escravidão aos falsos deuses e da autotirania, e, também, libertar-se para o Deus verdadeiro. Essa liberdade para Deus, que é a fé, é também o início da capacidade de obedecer a Deus. Por isso, fé é também obediência; fé é confiança na fidelidade de Deus. Por mais fraca e instável que possa ser, ela sempre tem como meta tornar-se uma confiança plena e perfeita em Deus. 

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