O que esperar de um mundo sem Deus?

Não é preciso ser cristão para ter clareza de que o mundo não anda bem. Já escrevi sobre o motorista de Uber que me expressou: “O mundo está muito ruim, mas eu não consigo entender o porquê.”.

Recentemente, obtivemos resposta unânime, entre quase cem alunos em um encontro de catequese, ao perguntar quem discordava da afirmação de que o mundo estava em grande desordem.

Assim, está claro para todos que algo saiu do prumo. As afirmações são variadas: o ser humano perdeu a mão, estão todos “muito loucos”.

Como já afirmei, nós, católicos, sabemos bem o porquê. Há muito o homem decidiu separar-se de Deus, de novo!

Na primeira vez, sabemos bem o que aconteceu. Nossos primeiros pais seguiram o “canto da serpente”, comeram o fruto proibido da árvore do conhecimento, e pela razão tentaram “ser como deuses”. O resultado foi a expulsão do Paraíso e o pleno afastamento de Deus, até que Ele viesse se revelar novamente na história da salvação.

Mas, apesar do duro castigo, não aprendemos a lição. No decorrer dos últimos séculos, estamos repetindo o mesmo erro. O racionalismo novamente tomou conta do ser humano. Nossa “inteligência” se rebelou e decidiu superar o espírito e ser “como deus”.

Nessa onda, o homem, que por séculos floresceu a sociedade ocidental movido por seu propósito central da busca pela felicidade verdadeira, deu lugar a uma mistura melancólica de um sentimentalismo egocêntrico.

Acabamos criando uma sociedade envolta numa combinação horrenda, um “hedonismo imediatista”. Juntando o hedonismo, cujo propósito central da vida é a busca do prazer, com o imediatismo que exige que seja obtido num apertar de botões.

O resultado se vê numa juventude mole, que só pensa em satisfazer prazeres, profundamente impaciente e altamente vitimista, uma combinação nefasta que bloqueia o despertar de qualquer virtude.

Mas isso não aconteceu de repente. Estamos sendo “catequizados” neste mantra há tempos com ideias como “o importante é ser feliz” ou “faça o que te faz sentir melhor”.

A tecnologia dos dispositivos móveis e as redes sociais se tornaram um catalisador para o homem olhar só para si. Nos tornamos uma sociedade de pessoas olhando para um “umbigo retangular” que amplifica o mesmo e velho “canto da serpente”.

Se antes éramos um grupo de pessoas com vários pontos de vista, agora nos tornamos um amontoado de arrogantes, e cada um sabe mais do que o outro. Os pontos de vista foram substituídos pela “verdade de cada um”, e vivemos décadas sendo cozidos nessa panela de pressão do relativismo.

Agora, ultrapassamos o relativismo e, segundo os não cristãos, fomos “promovidos” a uma nova fase, como num videogame: a “pós-verdade”. Esse período de nome esquisito que me faz pensar que estamos mesmo na fase do anticristo, algo como que um “pós-Deus”, Ele sim a Verdade.

Nesta nova fase da sociedade, pronta para um “reset” sem que os bons se manifestem, o Mal substituiu o Bem. O mundo é governado por ímpios, enquanto a claque dos meios de comunicação aplaude. Nessa festa profana, todos se lambuzam na mesma lama do pecado coletivo.

Assim, tudo segue o mesmo “canto”. O cinema não é capaz de contar uma história sem incluir seus conceitos ideológicos, a imprensa não é capaz de fazer uma reportagem sobre a morte de bebês sem evitar adjetivos que ameacem sua causa.

A luz se apagou em todos os lugares. Não é possível mais se perguntar sobre a “moral da história” nos contos infantis. A moral se tornou imoral; o amor de Deus, intolerância; e a verdade, algo intragável.

Estamos vivendo o que previu com precisão o apóstolo Paulo em sua segunda carta a Timóteo: “Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas” (II Timóteo 4,3-4).

Nessa toada, não é de surpreender o que estamos vendo acontecer: guerras, desavenças e um mundo violento. Esse é o mundo de onde Deus foi “expulso” pelo pecado; um mundo sem olhar para a salvação, mas com metas claras para o pecado.

Como digo: se o mundo se afastou de Deus, agora é necessário que Ele desapareça. Sua presença nos faz perceber nosso pecado, e não podemos suportar isso.

Mas se sabemos a causa, sabemos também que o remédio chegará em breve, como disse Maria: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. Estejamos atentos, não entremos no “canto da serpente”. Ao contrário, estejamos em dia com nossos sacramentos e em oração, pois “aquele que perseverar até o fim será salvo.” (Mateus 24,13).

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