A festa de Nossa Senhora da Paz e a dignidade dos migrantes

No dia 9 de julho, a Paróquia Nossa Senhora da Paz, no bairro da Liberdade, em São Paulo, celebrou a festa de sua padroeira. Diga-se de passagem, a data relembra também a Revolução Constitucionalista de 1932. Por que Nossa Senhora da Paz? Na verdade, a construção que compõe as dependências da Paróquia foi erguida, em especial, pela comunidade italiana durante os anos de 1940, quando toda a Europa estava conflagrada pela 2ª Guerra Mundial.

Desde então, o complexo de obras da Missão Paz tornou-se uma referência para os migrantes em geral, sejam eles os estrangeiros que desembarcam em nossos portos, com destaque para os de língua espanhola que chegam dos países vizinhos, sejam os trabalhadores que se deslocavam em particular do Nordeste e de Minas Gerais para o Centro-Sul, atraídos pela industrialização de São Paulo e Rio de Janeiro e a construção na nova capital do País, Brasília.

Essa celebração abre espaço para refletir sobre a relevância do binômio migrante e paz no decorrer dos tempos. De fato, ao longo da história, inúmeros deslocamentos humanos de massa ocorrem devido não só às guerras e conflitos armados em geral, mas também à pobreza, assimetria e injustiça que dividem povos e nações. A Igreja, por outro lado, jamais deixou de denunciar tais desigualdades que submetem os países pobres aos países centrais. Prova disso é a encíclica Pacem in Terris (1963), publicada por São João XXIII, em pleno vigor da Guerra Fria. Após o Concílio Vaticano II, com a encíclica Populorum Progressio (1967), São Paulo VI retoma o tema da justiça e do desenvolvimento como pressupostos indispensáveis para a paz.

Não é diferente nos dias que atravessamos. Conflitos bélicos, carência e penúria, de um lado, somados às mudanças climáticas, de outro, continuam provocando movimentos humanos cada vez mais intensos, diversificados e complexos. Novos rostos e culturas passam a fazer parte do fenômeno das migrações. Não seria difícil citar exemplos atuais tais como Venezuela, Haiti, Ucrânia, Palestina, Afeganistão, Sudão do Sul, Iêmen, Etiópia, Bangladesh, entre outros. Contam-se às centenas de milhões o número de pessoas que hoje, de forma compulsória, habitam fora do país em que nasceram. Multidões que, de fronteira em fronteira, batem às portas de outros países na desesperada busca por uma nova pátria.

O Papa Francisco, de resto, tem insistido com profética veemência para a necessidade de mudanças substanciais na legislação migratória dos lugares de acolhida, no sentido de levar em conta não tanto o tema da segurança nacional dos Estados, e sim a dimensão dos direitos humanos dos migrantes, para que estes últimos possam ter a possibilidade de refazer a própria vida e a de suas famílias. Nessa perspectiva, a Igreja da Paz continua sendo um posto de referência para os migrantes que procuram o Brasil e São Paulo como refúgio e oportunidade. Parte-se do princípio de que para a Igreja não há estrangeiros, somos todos irmãos: “Já não sois migrantes, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2,19-22).

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