Agosto, Mês das Vocações; setembro, Mês da Bíblia; outubro, Mês das Missões. Há uma inegável lógica nessa sequência litúrgica. Primeiro, por meio de um chamado e de uma resposta, somos convidados a um serviço na Igreja e no Reino dos céus. Em segundo lugar, a Palavra de Deus nos guia e nos ilumina, nos prepara e nos capacita, tendo como horizonte a ação evangelizadora. Por fim, de acordo com a feliz expressão “Igreja em saída”, cunhada pelo Papa Francisco na exortação apostólica Evangelii gaudium, nos colocamos a caminho no cumprimento da missão.
A mesma lógica envolve uma tríplice dimensão da vida cristã na sua integridade. O contato intenso e frequente com Cristo, mediante o silêncio e a escuta, solidifica uma espiritualidade particular de discípulo. A ativa participação na vida eclesial, por meio das Sagradas Escrituras, nutre nossa formação permanente, seja na catequese e na preparação aos sacramentos, seja nos cultos e celebrações festivas. A Doutrina Social da Igreja, por sua vez, ela própria alimentada pela Palavra, orienta a análise do contexto histórico em que vivemos, ao mesmo tempo que nos alerta para os desafios que ele comporta e para as ações sociopastorais a serem implementadas.
Semelhante dinâmica do engajamento cristão, estudada, desenvolvida e aprofundada nos três meses supracitados – espiritualidade pessoal, vida eclesial e compromisso social – realiza em nós a passagem da vocação à missão, isto é, do chamado pelo próprio Mestre a ser discípulo, ao horizonte de uma resposta positiva como missionário do Evangelho. Travessia lenta, laboriosa e persistente, que bem pode durar toda uma vida, e que, na linguagem do Documento de Aparecida, nos torna discípulos-missionários de Jesus Cristo na construção do Reino de Deus.
Isso nos remete ao que poderíamos chamar de “tripé da prática de Jesus”, que pode ser ilustrado pelas imagens de montanha, casa/mesa e caminho. Na montanha, Jesus desenvolve uma progressiva intimidade com o Pai, dimensão espiritual da existência humana. Na casa/mesa, tece e aprofunda a convivialidade com os discípulos e os amigos mais íntimos, dimensão da pertença eclesial, a qual irá culminar na última ceia realizada às vésperas de sua paixão e morte. Pelos caminhos da Galileia, provoca e anima encontros, muitas vezes proibidos, mas que se convertem em verdadeiros poços de água viva, em que o “Verbo se faz carne” – presença, olhar, sorriso, gesto, toque, cura, bênção – e se torna Boa Notícia do Evangelho.
Montanha, casa/mesa e caminho! Imagens que traduzem, respectivamente, os momentos de oração e meditação para com o Deus misericordioso; a vida familiar, comunitária e eclesial, que prepara o terreno para o embrião do que viria a ser a Igreja; e o anúncio da salvação a todos, particularmente aos pobres e marginalizados, aos doentes, indefesos e excluídos, primeiros convidados ao banquete do Reino. Na verdade, Jesus não tem uma Boa-Nova, Ele é a Boa-Nova que revela o rosto amoroso do Deus vivo.
Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).