Muitas pessoas se questionam sobre o porquê do sofrimento humano. Por que tanta miséria, desgraças, guerras? Essa é uma das questões mais importantes da filosofia católica e que para alguns coloca em dúvida a existência de Deus.
A ideia de Deus é algo presente em toda a tradição filosófica tem sido objeto de reflexão e debate desde a Antiguidade. Na Grécia Antiga, encontramos em Platão a ideia do “Bem” que pode ser admitida como uma espécie de princípio divino, algo supremo. Em outro sentido, Aristóteles traz o conceito de “Motor Imóvel”, causa primeira que é eterna, imutável e perfeita – uma força que atrai para si todas as coisas devido à sua perfeição. No período medieval, tivemos vários e importante pensadores; um deles foi Agostinho, que desenvolveu a tradição cristã de que Deus é transcendente, eterno, onipotente e onisciente. Concebendo Deus como criador do universo e fonte de todo o bem. São Tomás de Aquino, o boi mudo da Sicília, concebe Deus como ato puro, sem potencialidade, como causa primeira. Ele argumenta a existência de Deus com base em cinco vias: a) o primeiro motor, não movido por nenhum outro; b) causa eficiente primeira; c) necessário por si mesmo; d) causa do ser, de bondade e toda perfeição; e) algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são ordenadas, e a isso chamamos de Deus.
Na filosofia moderna, tem-se nomes de destaque, como Descartes, que argumenta Deus como uma ideia inata e necessária. Trata Deus como perfeito, sendo sua existência garantida pela clareza e distinção com que podemos conceber a ideia de um ser perfeito. Desse período também se destacam Leibniz e Espinosa. No período contemporâneo, Nietzsche chama a atenção ao declarar que “Deus está morto”, referindo-se à ideia de que a crença em um Deus tradicional está em declínio na sociedade moderna.
Para Kant, a existência de Deus não pode ser provada, embora seja um postulado necessário à razão prática, algo essencial para a moralidade.
Poderiam ser citados vários outros filósofos, mas a intenção não é fazer um tratado sobre todos os filósofos que se debruçaram sobre a existência de Deus. Até porque se admite que há um consenso no meio filosófico de que a existência de Deus não pode ser provada – bem claro, que por meio de argumentos racionais somente.
Por outro lado, quando somos questionados se Deus existe frente a todo o sofrimento humano, ficamos calados, admitindo que é um mistério, ou damos respostas muito corretas, mas pesadas e que são entendidas apenas por alguns. Falar da natureza do mal, do livre-arbítrio, do Bem maior, da providência divina, da redenção com base em Agostinho e Tomás de Aquino sem dúvida são respostas perfeitas, mas que nem sempre conquistam a todos.
Assim, um caminho possível é ouvir pessoas que nos falam diretamente ao coração usando do poder da simplicidade e, por vezes, temperadas com a poesia.
Esse é o caso de Ariano Suassuna, que em uma entrevista ao ser perguntado se acreditava em Deus, respondeu que não seria capaz de conviver com a visão amarga, dura, atormentada e sangrenta do mundo se não acreditasse. Na sua resposta, declama as três estrofes de “Quem foi temperar o choro e acabou salgando o pranto?”, um poema de seu conterrâneo Leandro Gomes de Barros que coloca a questão do sofrimento e da presença do mal na humanidade, assim questionando a existência de Deus. Suassuna em sua resposta diz que “Deus é uma necessidade” e se “Nele não acreditasse, seria um desesperado”. Assim, nos dando uma lição com o tempero da poesia e a simplicidade da sabedoria.