Para ter a paz no coração

É possível ter paz no coração em um tempo tão difícil como o que estamos vivendo? Minha mãe repetia-nos muitas vezes (tanto que me lembro sempre): a extrema necessidade é a oportunidade de Deus. Por isso, este é exatamente o momento ideal para aprender a adquirir a paz no coração. Um grande mestre do monaquismo oriental, São Silvano do Monte Athos, dizia que o caminho para ter paz no coração é começar a observar atentamente os pensamentos que nos vêm à cabeça e expulsar rapidamente os pensamentos de raiva e ressentimento. O modo para fazer isso é começar a pedir a Deus na oração, na missa, depois da Eucaristia, ao rezar o Terço ou a Liturgia das Horas, para abençoar a pessoa que fez você sofrer. Quando pensar na pessoa ou a vir, diga logo, mentalmente e com sincero desejo: “Que Deus a abençoe e a ilumine!” Se ela lhe fez mal, precisa ser iluminada, não? Por isso, convém pedir essa graça a Deus.

Se algo deixou você triste, ou alguém com quem você convive o deixou irado, de forma que você começa a detestá-lo, não deixe a ira se apossar de você por muito tempo. Pense logo, como ensina São Silvano: “O Senhor conhece o meu coração. Se permite que isso esteja me acontecendo, é porque aqui há um desígnio que eu não consigo enxergar agora, mas eu sei, como diz São Paulo, que tudo concorrerá para o meu bem e o bem dos outros” (cf. Rm 8,28). E, logo em seguida, diga a si mesmo: “Senhor, eu lhe peço, faça-me ver logo o que tem de bom nesta situação tão difícil e ajude essa pessoa”. Quanto mais pedir, mais adquirirá confiança e mais conhecerá e compreenderá como Deus age: “Pois os Seus caminhos não são os nossos caminhos” (Is 55,8-9). O Seu modo de ver e de agir é sempre maior e melhor do que o nosso.

É preciso também jogar fora rapidamente todos os pensamentos de raiva, murmuração, reclamação, inconformismo. Jogue fora, não os alimente, pois eles vêm do maligno para prender você naquela situação ruim. Apoie-se em Deus e conte com Ele. Peça para Ele agir. A confiança é a virtude mais essencial num tempo tão difícil como o nosso.

Não gaste muito seu tempo emitindo julgamentos sobre os outros, pois não se pode julgar uma pessoa apenas pelos seus atos exteriores. É insuficiente e muito precário. É preciso ver também seu interior, ou seja, seus pensamentos e seu coração. Mas não só: é preciso conseguir vê-la em todos os lugares. E essa capacidade só Deus tem (cf. Mt 7,1-5). Por isso, jul gar os outros só por alguns atos exteriores que conseguimos enxergar, nos induz muito frequentemente a conclusões erradas. E, sobretudo, nos tira a paz do coração. Por isso, quem quiser conhecer a paz, “medite a lei do Senhor, dia e noite” (Sl 1,2).

São Silvano nos diz que a paz vem quando, lendo e meditando as Escrituras com frequência, deixamos que o Espirito passe da Palavra ao coração. E experimentaremos, então, uma doçura tão grande, que as coisas materiais, as preocupações excessivas, as provocações dos outros não conseguirão vencê-la por muito tempo. A própria presença dessa doçura em nós desarma os outros, pois, quando presente, é bastante visível, é cheia de força e persuasão, não há nada de resignação ou submissão. São Silvano diz ainda: “Quando perdes a paz? Quando pensas, mesmo que por um segundo, ter feito algo de bom por ti mesmo; quando crês que és melhor do que teu irmão; quando julgas alguém; quando corriges o outro sem doçura e sem amor; quando comes demais; e quando rezas descuidadamente e sem sinceridade.” Se você perder a paz, suplique- -a ao Senhor e ela retornará. É dessa paz que este tempo precisa mais!

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