Semana do Migrante de 2024

A Semana do Migrante no Brasil é promovida pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), vinculado ao setor da mobilidade humana e à dimensão sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Neste ano, realiza-se de 16 a 23 de junho de 2024, tendo como tema “Migração e casa comum” e como lema “Alarga o espaço da tua tenda” (Is 54,2). Seguindo uma prática que já se tornou costumeira, o processo retoma o tema da Campanha da Fraternidade do mesmo ano, sob o enfoque do fenômeno migratório. Trata-se de um tempo intenso e privilegiado para a reflexão e a ação em favor dos migrantes e refugiados. Outras entidades e organizações que atuam no contexto do fenômeno migratório também fazem parte do processo de construção desse espaço de sensibilidade e solidariedade à multidão de “sem raiz, sem pátria e sem rumo”.

De passagem, convém ter presente algumas estatísticas fornecidas pelos recentes relatórios do Acnur – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. O número de pessoas que atualmente vivem fora do país em que nasceu já ultrapassa a casa dos 300 milhões; destes, cerca de 105 milhões são considerados refugiados. Além disso, 85,7 milhões de pessoas sofrem por causa de deslocamentos internos, devido, de modo particular, à violência da guerra, às mudanças climáticas e à crescente pobreza e desigualdade social. Mais do que números, gráficos e tabelas, porém, nossa atenção se volta especialmente para os nomes, os rostos, as histórias, as lutas e esperanças de quem enfrenta árdua travessia. Esta travessia, não raro, converte o sonho em pesadelo, criando cemitérios de migrantes anônimos, como por exemplo o mar Mediterrâneo, os desertos e a floresta de Darién.

O desafio de “alargar o espaço da tenda” convida as comunidades, as paróquias, as dioceses e todo o povo de Deus a abrir o coração, a casa e o espaço comunitário aos que, vindos de outros povos, culturas e nações, batem à nossa porta. Num primeiro momento, é até compreensível um certo distanciamento que o estranho e diferente causa em nossa vida. O outro/novo sempre nos interpela, revelando um esforço de adaptação. Mas é diante dele que consolidamos a própria identidade pessoal e nacional. Numa perspectiva evangélica, a presença dos estrangeiros, longe de ser um problema, uma ameaça ou um perigo, como pensam muitas vezes as autoridades, a grande mídia e a opinião pública, transforma-se em um caminho de descoberta e crescimento.

Quando se encontram os valores e contravalores de diferentes culturas, abre-se uma possibilidade para o confronto, o intercâmbio e uma conversa franca e aberta. Semelhante processo constitui uma oportunidade sem igual para a depuração e purificação recíproca de cada visão de mundo, além de combater o preconceito e a discriminação, a xenofobia e a hostilidade. O que, simultaneamente, conduz a um enriquecimento igualmente recíproco. Somente assim, como alerta o Papa Francisco, podemos substituir, passo a passo, a “globalização da indiferença” pela “cultura do encontro, do diálogo e da solidariedade”.

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