Todas as formas de vida importam, mas quem se importa?

Esse é o lema do Grito dos Excluídos de 2024. As manifestações em torno da iniciativa ocorreram no Dia da Pátria, 7 de setembro, em contraponto à data da Independência. Um duplo objetivo procura mostrar, de um lado, que apesar de politicamente independente, o Brasil ainda sofre com os mecanismos colonialistas e excludentes da atual economia globalizada. Por outro lado, ancorado na Campanha da Fraternidade deste mesmo ano, o Grito busca ampliar a participação de todos e todas numa “amizade social” que a ninguém deixe do lado de fora. Em outros termos, como fazer que “nossa casa comum” se torne terreno fértil para que sejamos “todos irmãos”? – de acordo com as duas cartas encíclicas do Papa Francisco.

Quanto ao tema em torno das mobilizações relacionadas ao Grito, segue sendo o mesmo, repetido a cada ano: A vida em primeiro lugar. Não apenas a vida humana, mas todas as formas de vida. Em outras palavras, está em jogo a biodiversidade em toda sua riqueza e exuberância. O certo é que a vida em geral vem sofrendo ataques de natureza vária. As agressões ao meio ambiente e a exploração desenfreada dos recursos naturais vem comprometendo o planeta Terra enquanto fonte e origem das mais diferenciadas manifestações de vida. Assiste-se à extinção irreversível de numerosas espécies de fauna e flora, ao mesmo tempo em que o ar, as águas e os oceanos são contaminados. A depredação e a devastação das florestas causa a desertificação do solo. O que faz crescer sempre mais o número de refugiados climáticos.

A mesma exploração desenfreada atinge igualmente a força humana de trabalho. Aos milhares e milhões, os trabalhadores e trabalhadoras são forçados a buscar os meios de sobrevivência fora da região ou país em que nasceram. Tensões, guerras e conflitos constituem outro fator de desenraizamento. E muitos desses andarilhos permanentes, por mais que cruzem as fronteiras e batam em distintas portas, acabam sendo malvistos, rechaçados como intrusos e indesejados. Daí os gemidos às vezes abafados de fome, doença, discriminação, xenofobia, racismo, falta de oportunidades, violação dos direitos humanos – os quais, multiplicados e levados às ruas, se convertem em um Grito uníssono por justiça e paz em todo mundo.

Denunciar a crescente concentração de renda e desigualdade social, por uma parte, e anunciar que outro mundo é possível e desejável, por outra, faz com que o Grito se torne uma profecia para os deserdados da terra e para as gerações futuras. Sim, é necessário e urgente superar o projeto socioeconômico e político-cultural de exploração de tudo e de todos, por um projeto do cuidado, da convivência e da solidariedade. É preciso orientar a política e a economia não em favor de um punhado de milionários ou bilionários do planeta, e sim em vista do bem-estar dos pobres, dos excluídos e dos descartáveis. São estes os preferidos de Deus, protagonistas principais dos documentos da Doutrina Social da Igreja em geral, e do Papa Francisco em particular.

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