Um modo de olhar

Tudo depende de como olhamos a realidade. Do nosso modo de olhar depende o nosso agir. Por isso, nossa maneira de olhar é decisiva para o nosso viver e a nossa felicidade. Dizendo de modo simples, há dois modos de olhar: o olhar acusador e o olhar para o bem.

O olhar acusador dá-se conta dos problemas reais, se for um olhar sincero. Porque pode ser um olhar falso que vê o que não existe, exagera e aumenta para obter vantagens. Mas não é desse olhar que desejamos falar, porque esse olhar voa para a imaginação e pode chegar até ao delírio. Queremos falar do olhar simplesmente acusador que vê um problema que existe. Este é o olhar de satanás no livro de Jó. Satanás ali é o anjo que tem o papel de acusador na corte celeste, aquele que alerta Deus sobre o julgamento divino justo. As pessoas lúcidas têm esse olhar naturalmente dentro delas. Veem os erros dos outros e as consequências na realidade. Com um pouco mais de dificuldade, pois exige humildade, conseguem enxergar com clareza os erros também em si.

A função de satanás no livro de Jó é prová-lo para ver se Jó é de fato um homem de Deus. E ele o faz, com a permissão de Deus, tirando tudo de Jó, seus bens, seus filhos e, por fim, enchendo seu corpo de feridas. A questão do livro é: Jó ainda será fiel a Deus ou o renegará? Deus confia que sim, mas o acusador diz que não. No final, Deus vence. E Jó diz: “Eu antes te conhecia por ouvir falar, mas agora eu te conheço de verdade e sei que nunca me abandona e está sempre comigo em qualquer circunstância”.

Muitas vezes, nós podemos exercer o papel de acusador na vida, apontando e concentrando o olhar no que não vai bem. Não estamos mentindo, de fato, isto ou aquilo, não vão bem…Qual é o problema de assumir o papel de acusador? Não nos colocamos do lado de Deus. Os erros que vemos, existem, mas como Deus olha para eles?

O olhar do acusador é um olhar focado, mas muito restrito. Olha só o problema naquele momento. O olhar de Deus é um olhar a 360˚ graus, seja do ponto de vista espacial como temporal. É como quando a gente não olha no retrovisor e bate o carro. Estávamos olhando e até podemos dizer que estávamos atentos, mas não estávamos olhando em todos os ângulos e por isso não conseguimos enxergar o carro que estava lá. Deus, ao contrário, vê tudo, o antes e o depois, assim como vê todos os ângulos.

Como seria bom e uma grande graça que torna a vida construtiva e frutífera, se pudéssemos olhar como Deus! Como é possível? Pedindo e suplicando essa graça. Mas também quando o acusador nos inspira olhares acusadores, treinar a lembrar-se naquele instante, das coisas boas daquela pessoa e das coisas boas que já nos aconteceram. Podemos sempre escolher: focalizar o olhar no que está errado ou amplificar nosso olhar para ver o que aquela pessoa tem de bom, seus dons, e agradecer a ela mentalmente ou mesmo verbalizando. O mesmo vale para os dons que recebemos. Essa atitude não finge que o mal não existe, mas foca no bem que também está presente. Quem já descobriu que o mundo espiritual existe, sabe que um olhar voltado para o bem e que pede o bem é uma oração que purifica o ar do mundo!

Mas… e os assassinos, os estupradores, os ladrões, os traficantes, os que promovem a guerra? Um dia Santa Teresinha do Menino Jesus soube de um assassino de mulheres condenado à morte e rezou intensamente para ele. Pouco tempo depois, ela ficou sabendo que ele agarrara um crucifixo instantes antes de morrer, e assim descobriu que sua oração tinha sido atendida. 

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