Passadas as eleições, temos que constatar que a realidade política ao redor do mundo, de um modo geral, está distante do que indica seu conceito de trabalho pelo bem comum da coletividade. É marcada por uma busca desenfreada pelo poder a qualquer custo, do descuido para com a coisa pública e, especialmente, pelo distanciamento daqueles que mais precisam da proteção do Estado.
Em um ambiente assim, como falar e viver a unidade na política?
Relembrando conceitos etimológicos das palavras unidade e política, temos que no hebraico unidade quer dizer: todos igualmente juntos, enquanto no grego o sentido é de união, consentimento e indica o que não se pode ser dividido sem levar à destruição de sua própria essência. Na unidade deve existir o equilíbrio da soma dos pensamentos dos membros da comunidade, sem desrespeito ao pensamento de cada indivíduo, gerando, assim, uma nova ideia consonante a todos, sendo mais rica e mais completa.
O termo política tem sua derivação no grego antigo politeía, que indica a busca do bem comum da pólis (cidade-Estado), da comunidade, da coletividade. É o esforço conjunto, a soma de todos os esforços individuais para atingir um único objetivo, que é o bem das pessoas, dos cidadãos, proporcionando uma vida mais igualitária e oferecendo as mesmas oportunidades a cada um dos integrantes da comunidade.
Para enfrentar a onda de ódio que paira na sociedade, é indispensável promover o respeito e tolerância à diversidade, com diálogo entre pessoas de diferentes origens e opiniões para reduzir preconceitos.
A situação atual pode, de certa forma, ser comparada ao ambiente criado e deixado por Hitler na Europa. Isto me reporta a um deputado constituinte italiano que conheci, exemplo de resistência naqueles tempos: Igino Giordani, político, escritor, jornalista.
Encontramos em suas palavras algo da sua ação: “A política é – no mais digno sentido cristão – uma serva e não deve tornar-se mandante: não deve praticar abuso, nem dominação, nem sequer dogma. Aqui está a sua função e a sua dignidade: ser serviço social, caridade em ação: a primeira forma da caridade de pátria” (MAZZOLA, P. (org.) Perle di Igino Giordani. Turim: Effatà Edi-trice, 2019, p.112).
Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, que tinha uma visão profunda sobre a unidade na política, acreditava na possiblidade de se criar condições para um relacionamento constante em todos os âmbitos da vida, como na economia, saúde, comunicação, arte e administração da justiça. Criou com Giordani, o Movimento Político pela Unidade (MPpU), inspirado no seu carisma da unidade, na busca de promover o amor e a solidariedade como essência do ser humano na atividade política.
Em resumo, os princípios da MPpU, que podem nos ajudar na promoção da unidade na política, são: Diálogo e Cooperação, Políticas Inclusivas, Educação para a Cidadania, Transparência e Ética, Participação Cidadã e Apoio a Iniciativas Locais.
O pensamento do Papa Francisco caminha nesse sentido: “A política é, acima de tudo, a arte do encontro. Certamente, este encontro é vivido acolhendo o outro e aceitando sua diferença, em um diálogo respeitoso […] Essa arte do encontro começa com uma mudança de olhar sobre o outro, com um acolhimento e respeito de sua pessoa sem condições. Se essa mudança de coração não ocorrer, a política corre o risco de se transformar em um confronto muitas vezes violento, a fim de fazer triunfar as próprias ideias, em uma busca de interesses particulares e não do bem comum, contra o princípio de que a unidade prevalece sobre o conflito” (Discurso à Comunidade Chemin Neuf).