Nestes tempos de pandemia e de isolamento social, uma das questões que a comunidade em torno da pessoa com deficiência levanta é: como um deficiente está vivendo a quarentena?
Por que, no entanto, esta questão seria importante? Afinal, um deficiente não está em condição de isolamento tanto quanto qualquer outra pessoa? A resposta não é tão simples. A hora é a de aguçarmos a nossa sensibilidade. Um cadeirante, por exemplo, vive mais em contato com o chão, dado que tem de impulsionar as rodas de sua cadeira com as mãos. Além disso, tenho testemunhado pessoas com deficiência visual com medo de andar na rua, porque não sabem se estão passando ao lado de alguém com ou sem máscara; e também vale pensar sobre os deficientes auditivos que estão com sua comunicação comprometida, dado que parte dela é feita por meio da leitura labial.
Essas situações mostram que as pessoas com deficiência estão mais expostas e vulneráveis nesta pandemia. Em 24 de maio, a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) publicou no jornal Folha de S.Paulo um artigo intitulado “Nenhuma vida vale menos”, sobre a pessoa com deficiência em tempos de pandemia. Mara aponta o desdém das autoridades para com os deficientes neste momento de pandemia, um grupo que representa 15% da população do planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Há recomendações para pessoas em grupos de risco, sobre o distanciamento social e outras recomendações importantes para o Brasil sair dessa crise sanitária o mais rápido possível, mas essas pessoas apontadas por Mara estão esquecidas.
E como será a vida cotidiana das pessoas com deficiência no pós-quarentena? O que vai ser o mercado de trabalho, em uma das maiores crises econômicas de nossa história, para uma pessoa com deficiência, que já sofre tanto preconceito neste setor? Além dessa questão complexa, existem outras, mais simples, como, por exemplo, quem vai ajudar um deficiente visual a atravessar a rua? Ele será deixado de lado por medo da COVID-19? A quarentena e o vírus vão passar, mas as pessoas com deficiência ficam.
Apesar desse cenário de incer tezas, já há iniciativas que ajudam as pessoas com deficiência a continuar realizando suas atividades. Na Associação Fernanda Bianchini, voltada a ensinar linguagens artísticas a pessoas com deficiência, principalmente com ênfase em balé, neste período a entidade passou a oferecer aulas em seus canais do Instagram, YouTube e Facebook para que seus alunos não ficassem parados. É de extrema importância seguirmos estas páginas, dado que o trabalho lá realizado é de excelente qualidade e que o reconhecimento ao bem que é feito é fundamental na vida de um artista.
Concluo pedindo a cada leitor que reconheça projetos como o apontado acima e aguce a sensibilidade para as questões aqui apresentadas. Muitas vezes, nós nos iludimos, achando que para resolver tais apontamentos é preciso fazer coisas grandiosas; são os pequenos gestos, porém, que solucionam os grandes problemas. Muitas vezes, o que um deficiente quer não é que alguém o ajude a atravessar a rua ou que alguém retire, por um minuto, a máscara para se comunicar com ele. O que um deficiente precisa, realmente, é que o outro desenvolva a empatia.
Bela reflexão. Parabéns ao O São Paulo por dar espaço a uma discussão tão importante nos nossos dias!
Valeu Juan, grande abraço