Este é o slogan da campanha direcionada à prevenção da erotização precoce e da gravidez na adolescência, que implementamos durante o mês de fevereiro. De fato, uma abordagem distinta: “Tudo tem seu tempo. Pense em seu projeto. Fale com sua família. Adolescência primeiro. Gravidez depois”.
Era preciso tratar o tema, não apenas de forma pragmática, combatendo consequências, sem descer às causas. Por essa razão, nossa proposta partiu de raízes antropológicas para estudar o fenômeno e implementar a política pública, levando em consideração o ser humano em sua totalidade.
Nesse sentido, tratamos primeiro da erotização precoce, da adultização e dos diversos canais pelos quais as crianças e adolescentes têm sido, em realidade, “pedofilizados”, tornando-se objetos de consumo, por meio da manipulação carnal-emocional que conduz às experiências sexuais prematuras, com as consequentes frustrações afetivas, que ocasionam, não raras vezes, efeitos irreversíveis, como o suicídio. O impacto da hipersexualização e o triste “mercado do sexo”, antes destinado principal- mente aos adultos, hoje têm amplo impacto na vida infantil e adolescente, sendo estes até mesmo utilizados para impulsionar os negócios, influenciando também outros, que, por sua vez, são arrastados pela curiosidade, pelo mau exemplo e pela falta de maturidade. Dessa forma, o desenvolvimento sexual antecipado exacerba o sensual e o erótico, dissociando-se da afetividade e do amor.
Por outro lado, uma vez aberta a caixa de Pandora, crianças e adolescentes se tornam reféns de experiências sexuais diversificadas, desrespeito, violência, drogas, doenças sexualmente transmissíveis, recursos a medicações impróprias para um crescimento saudável etc., com o acréscimo evidente de um sofrimento profundo, causado pela vergonha e pela decepção – ainda que muitas vezes disfarçadas –, uma vez que a riqueza da sexualidade humana vai muito além de um ato meramente biológico, pois atinge o núcleo da pessoa e seu coração.
Por essa razão, vemos muito im- portantes não só informação e formação especial para o público infantoju-venil, mas também para as famílias. Para tanto, uma das metas da campanha é que os pais acompanhem os filhos em seu despertar afetivo e sexual. Nesse sentido, oferecemos formação específica no programa “Família na Escola”. O curso conta com um módulo denominado “A afetividade e a sexualidade da criança e do adolescente”, abordando mudanças e trans- formações da idade; a importância da conexão nesse momento e de um olhar integral; autoestima, autoimagem e autoconhecimento; valorização, proteção e conhecimento do corpo; emoções e o mundo; liberdade e responsabilidade; a influência do ambiente; o exemplo dos pais e o ambiente familiar etc.
De fato, a família é escola de relações e o âmbito mais propício para apresentar a grandeza da sexualidade e do amor humano. Por outro lado, é comprovado também que as políticas públicas que envolvem a família são nove vezes mais eficazes nos resultados, principalmente em se tratando de tema de alta densidade antropológica. Nesse sentido, vemos muito importante que essa vertente formativa não fique à margem da educação, mas que seja tocada com naturalidade pelos pais, sem vergonha, delegação ou omissão, em tema decisivo para a felicidade dos filhos. Paralelamente, constatamos também o quanto os pais desejam informação de qualidade nesse âmbito para poderem orientar melhor os filhos.
No envolvimento das famílias, visamos ainda a auxiliar a acolher a vida, em caso de gravidez, oferecendo o apoio necessário, uma vez que o aborto não previne a gravidez, mas acaba com ela, eliminando o ser inocente que tem o direito de viver.
Em realidade, desejamos envolver todos os atores para uma profunda conscientização e sensibilização, promovendo especialmente o fortalecimento das competências familiares e da sociedade como um todo, em defesa e projeção da criança e do adolescente, com base na Constituição federal (artigo 227) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 4), e atingir não só a redução da gravidez na adolescência, mas um aprimoramento das relações humanas, como tais, garantindo também uma infância saudável, desempenho escolar eleva- do e as condições para um bom encaminha- mento afetivo, que garante também a formação de novas famílias, fortes.
As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal OSÃOPAULO.
Parabéns pelo excelente artigo. Mais que oportuno discutir com profundidade essa temática tão banalizada em nosso tempo.