Os objetivos da República e a discriminação por ideia

É muito triste assistir aos constantes ataques perpetrados em redes sociais entre brasileiros que têm ideologias divergentes. Infelizmente, o debate de opiniões foi substituído por ataques pessoais, discurso de ódio, fake news, “cancelamento” do outro… Tudo com o objetivo de vencer.

As posições políticas de “esquerda” e “direita” mais se parecem com torcida organizada de times, em que tudo vale para que o “meu lado” saia vencedor.

Joga-se no lixo a Constituição federal com essa atitude em sociedade. Sim, pois a Constituição é para ser cumprida por todos, não apenas por políticos, juízes e pessoas públicas. Nada melhor para entender o que deveria ser o tão propalado Estado de Direito do que recordar os objetivos da República, contidos no artigo 3º, incisos I a IV:

I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – Garantir o desenvolvimento nacional;

III – Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Cada brasileiro deve ter como objetivo de vida em sociedade a solidariedade com o outro brasileiro, seja ele quem for ou o que pense. Isso em nível nacional, para o bem de todos, em todas as regiões de nosso enorme País, para que a fome seja erradicada e não haja quem seja ameaçado em sua dignidade, sua vida e seus direitos, em virtude de qualquer tipo de discriminação, inclusive por suas concepções filosóficas e políticas.

O que fundamenta uma República é o reconhecimento por governantes e governados que o poder emana do povo e para o bem do povo deve ser exercido.

Deve-se combater a corrupção, o mau uso do poder outorgado pelo povo e não as pessoas que pensam em saídas diversas para os problemas, seja acreditando que o Estado deve ter a mão mais pesada na vida privada, seja acreditando no contrário. Assiste-se, de parte a parte, lados opostos querendo derrotar o outro a qualquer custo. O embate, entretanto, que deve ficar no campo das ideias, não autoriza deixar em suspenso o dever de solidariedade. Ser solidário é tratar o outro com respeito, se comprometer com o seu bem e reconhecer sua dignidade, ainda que ele não tenha chegado ao seu “grau de iluminação”.

É fato que há um “progressismo” em curso, que, na pretensão de libertar o ser humano, vem aniquilando tudo o que é tradicional, notadamente valores caros ao Cristianismo, impondo mudanças de comportamento, querendo influenciar crianças de tenra idade, desvalorizando o que traz solidez às famílias e à sociedade. O jovem de hoje é invadido de concepções fluídas sobre o ser humano a partir da forma de viver de muitos (especialmente famosos), pela publicidade, mídias diversas, sobretudo redes sociais e até na educação formal. Modernidade líquida, já afirmava o sociólogo polonês Zygmunt Bauman: verdade é apenas o que você escolhe ser, amor é aquele que só faz você feliz, sofrimento nem de longe se admite em prol de algo maior. E pensar que Deus veio ao mundo para sofrer e morrer para que nós pudéssemos ser salvos…

O desespero, por vezes, toma conta dos que ainda se firmam em alguma solidez, fazendo com que adotem atitudes de ódio. Não é esse o caminho. Ser firme em suas ideias e posturas não exige a destruição do outro que pensa diferente. Destrua ideias, argumente, convença, mas, principalmente, seja alguém que o outro queira ser também!

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