Os evangelhos relatam o que Jesus sentia em relação à desorientação das multidões. Contam que, certa vez, Ele encheu-se de compaixão pelas multidões porque eram como ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36; Mc 6,34). Também há momentos em que relatam a sensibilidade de Jesus sobre o desejo de que as ovelhas estivessem unidas como um verdadeiro rebanho. Chegou até mesmo a chorar pela dispersão de seu povo. Dessa vez, referindo-se a Jerusalém, comparou a multidão a pintinhos que a galinha reúne debaixo de suas asas, e lamentou porque as pessoas não aceitaram ser assim reunidas sob a proteção de Deus (cf. Mt 23,37; Lc 13,34). Também falou do quanto cada pessoa podia ser importante para o pastor a ponto de deixar as 99 ovelhas do aprisco e sair à procura de uma única ovelha perdida (cf. Lc 15,4-7).
Mas Jesus também profetizou que as ovelhas abandonariam o seu pastor e se dispersariam. Falou assim referindo-se a seus discípulos. Disse Ele: “Eis que vem a hora, e já chegou, em que vos dispersareis, cada um para seu lado, e me deixareis só” (Jo 16,32). Isso quer dizer que, para além das preocupações das ovelhas sem pastor, também haveria um momento em que o pastor ficaria sem as ovelhas. Se, de um lado, entende-se a desorientação das pessoas, como ovelhas sem pastor; de outro lado, pode-se imaginar a tristeza e a solidão de um pastor sem ovelhas.
Na experiência de mais de 20 anos de ministério, tive ocasião de experimentar o que significa isso. Também acompanhei algumas pessoas no ministério que pareciam pastores sem ovelhas. Foram clérigos, tanto presbíteros quanto bispos que, por razão da idade, após a renúncia, lutaram muito para se adaptar à vida sem uma comunidade de fiéis como referência no ministério. Assim acontece também com professores aposentados e até com pais e mães de família depois que os filhos saem de casa.
Mas essa também pode ser a história de muitas e muitas pessoas que hoje vivem em função dos “seguimentos” e das “curtidas”. Em tempos de redes sociais, parece que todo mundo depende um pouco do número de seguidores de seu perfil e dos “jóinhas” e “sininhos” que são acionados. Outros tantos parecem se realizar apenas em seguir os seus “influenciadores”. Eles parecem dar segurança às escolhas e opiniões que possam manifestar.
Outro dia, numa comunidade paroquial onde eu devia celebrar, tive ocasião de ver uma jovem entrar em um verdadeiro “surto”, com gritos e agressões gratuitas a pessoas e símbolos, dentro da igreja. Graças a Deus, não aconteceu nada de mais grave, mas até a polícia precisou ser acionada e, posteriormente, o serviço de saúde. Dias depois, soube que se tratava de uma “influenciadora” digital. Ela tinha problemas psiquiátricos e também com a bebida. Era uma jovem bela e, ao que tudo indica, muito inteligente. Naquele momento, porém, parecia mais uma ovelha sem pastor do que um “influencer”. Seus seguidores, lá no fundo, também poderiam enquadrar-se como ovelhas sem pastor. Mas, penso que a questão mais preocupante é que se trate de um pastor sem ovelhas. Não sei bem como chegamos a esse ponto! Mas, acho que seria bom se pudéssemos resgatar um pouco mais o que significa seguir alguém ou fazer-se seguir por outros.
O bom influenciador leva seus seguidores a pastagens verdejantes e águas repousantes; com seu perfil, faz os seguidores acreditarem que não há o que temer, mesmo no vale da sombra da morte, diante dos que os afligem, prepara um banquete, e faz com que acreditem que nada lhes faltará (cf. Sl 23). Não porque sejam perfeitos, não porque não tenham problemas, mas porque são sinceros. Não estão mais preocupados em aumentar o número de seguidores e fazer suas postagens “viralizarem”, mas em postar aquilo em que acreditam de verdade, aquilo que experimentaram e lhes fez bem, aquilo que acreditam de verdade que, nunca, nunca mesmo, poderá ser motivo de tristeza ou de arrependimento para quem quer que seja. Do contrário, seria melhor não ter seguidores!