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Pedro falou pela boca de Leão

“Depois da leitura da mencionada Carta, os reverendíssimos bispos exclamaram: ‘Esta é a fé dos Padres antigos, esta é a fé dos Apóstolos! Assim cremos todos nós, assim creem todos os que têm a reta fé. (…) Pedro falou pela boca de Leão!” (Labbe-Cossart, Concilia, t. IV, 368). Este pequeno fragmento histórico, tirado das atas do Concílio de Calcedônia (451 d.C.), revela o entusiasmo com que os bispos da Igreja universal, congregados de todas as partes do orbe cristão, receberam a Carta a Flaviano, que lhes fora enviada pelo Papa da época, São Leão Magno, para refutar algumas compreensões distorcidas sobre a verdadeira fé em Jesus Cristo.

Petrus per Leonem locutus est”. Dito de outro modo, nas palavras de São Leão Magno, os bispos enxergavam, substancialmente, a fé de Pedro – aquela rocha firme professada pelo Príncipe dos Apóstolos em Cesareia de Filipe, e da qual prometeu Cristo, “sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).

Na manhã da última sexta-feira, na Capela Sistina, foi também sobre esta mesma passagem do Evangelho que o mais novo Sucessor de Pedro (que é também o mais novo Leão) fez sua primeira homilia, na Missa Pro Ecclesia. “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” – eis as primeiríssimas palavras com que, em italiano, o Santo Padre decidiu inaugurar a pregação de seu novo ofício.

Trata-se de um apelo a retornarmos ao essencial, a recordarmos do “tesouro que a Igreja, através da sucessão apostólica, guarda, aprofunda e transmite há dois mil anos”. E que tesouro é esse? Ainda nas palavras do Papa, “Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo, ou seja, o único Salvador, que revela o rosto do Pai”. Ou, para usar as palavras do próprio Pedro, falando “cheio do Espírito Santo”: “Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4,8.12).

Esta é, fundamentalmente e antes de todas as outras, a missão da Igreja: anunciar ao mundo inteiro a Boa-nova de Jesus Cristo, proclamar que as portas do Céu, outrora cerradas, foram-nos abertas pela Paixão e Ressurreição do bendito Filho da Virgem Maria. 

E se Cristo confiou este encargo de modo geral à Igreja, confiou-o especialmente a Pedro e seus sucessores, que receberam a missão de confirmar seus irmãos bispos (cf. Lc 22,32). Com este chamado a “suceder ao Primeiro dos Apóstolos”, Deus confia o tesouro da fé “de modo particular” a Leão XIV, para que se faça “seu fiel administrador, em benefício de todo o Corpo místico da Igreja”. O Papa está nos recordando de que não é chamado a ser o dono da Igreja, mas sim seu fiel administrador.

Depois de falar da profissão de Pedro, o Santo Padre também alude às outras respostas, às diferentes visões que o mundo tem sobre Jesus Cristo e sobre o Cristianismo. 

De um lado, diz ele, há o mundo, com sua pompa e suas ganâncias – o mundo que enxerga Jesus como “uma pessoa totalmente desprovida de importância, quando muito uma personagem curiosa”. Quando, porém, Jesus começa a causar incômodo, “devido aos pedidos de honestidade e às exigências morais que solicita”, este mundo o rejeita e elimina. Hoje em dia, esta mesma atitude está presente nos tantos ambientes em que “a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos nos quais em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”. 

De outro lado, há a visão das pessoas comuns, que, se não chegam a desprezar Jesus, e até veem beleza e valor em seus ensinamentos, acabam no entanto por reduzi-lo a “um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas”, ou ainda “uma espécie de líder carismático ou super-homem”. Quando, porém, o seguimento de Jesus começa a gerar riscos ou inconvenientes, Ele é simplesmente abandonado – pois, afinal de contas, não se trata do Filho de Deus, mas apenas de um cara bacana.

Diante desse cenário, dessas reações equivocadas à pessoa de Cristo, precisamos reafirmar, com Pedro, com Leão Magno e com o Papa Leão XIV a verdadeira identidade de Cristo: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Pedro falou por Leão! E que continue falando.

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