Pertencer à Igreja: Carta Pastoral

O sentimento de pertencimento é inerente a todos nós e isso se manifesta desde a infância, com o núcleo familiar (o pai, a mãe, os irmãos), e depois na escola. Com o início da formação religiosa, temos o contato com a Igreja a que pertencem nossos pais, e começamos, então, a participar dela, pelo Batismo, a primeira Comunhão e a Crisma.

Diferentemente de décadas atrás, há hoje no Brasil inúmeras denominações e crenças que chegam aos lares pelos meios de comunicação. Isso fez mudar muito o perfil da religiosidade no País. Nos anos de 1940, os católicos eram cerca de 95% da população, percentual que foi diminuindo, até que no início dos anos 2010 éramos cerca de 60%.

Há na Carta Pastoral do Cardeal Odilo Pedro Scherer à Arquidiocese de São Paulo uma radiografia regional, na qual se aponta que dos católicos de nossa Arquidiocese, conforme constatou o 1º sínodo arquidiocesano, realizado de 2017 a 2023, somente 6% frequentam a missa aos domingos, 24% vão à Igreja esporadicamente e 70% não vão à Igreja, pois não se identificam com ela.

São várias as motivações para este afastamento, como, por exemplo, o desapontamento de não ter sido atendido numa graça pedida ou a atitude desleal de algum membro da Igreja. Isso induz à falta de comprometimento, ao afastamento das pessoas, que acabam por não se sentir membros, mas uma clientela não satisfeita.

Existe um componente cultural para esta visão “clientelista”: à época do Império, a divisão dos territórios no Brasil ainda seguia a terminologia portuguesa e eram denominados “Freguesias”, o mesmo nome usado para as paróquias. Este termo se deriva do latim filium ecclesiae, que quer dizer “filho da igreja”.

Porém, talvez tenha ficado no inconsciente esse conceito do fiel da “freguesia’. Ir em busca de ‘graças’, o que pode confundir a Igreja com um negócio em que Deus é mero distribuidor de graças e milagres. A graça existe – em abundância – e é distribuída por Deus, mas como exprime o próprio nome, é de graça. Não é uma mercadoria.

Pertencer à Igreja, logicamente, tem uma dimensão muito maior e muito mais profunda. O recebimento do sacramento do Batismo nos insere no seio da Igreja e depende de nós a correspondência à graça.

É necessária a conscientização de que somos Igreja e precisamos acolher e ser acolhidos. Não basta investir numa pastoral de manutenção, mas é imprescindível incentivar uma Pastoral de Acolhida, de constante abertura para receber a todos, em todo o momento. É uma missão para cada católico e que nos leva a viver o mandamento do amor recíproco vinte e quatro horas por dia. É um efetivo comprometimento.

Os que estão perto de nós (familiares, colegas, amigos), muitas vezes podem estar longe, se a nossa vivência da Palavra for esquecida ou se nos dedicarmos ao ativismo clerical.

Evangelizar é viver o Mandamento do Amor. Este, sem dúvida, é o maior legado que podemos deixar para a formação das jovens lideranças católicas que, muitas vezes, são os que nos dão exemplo e ensinamentos da vivência cristã.

Na citada Carta Pastoral, o senso de identidade e pertença à Igreja são questões fundamentais para implementação do sínodo e assim escreve Dom Odilo Scherer sobre o tema: “O chamado à santidade é a vocação de todos os cristãos e faz parte da identidade da Igreja. (…) Requer a vivência das virtudes humanas e cristãs, sobretudo o amor ao próximo, e o cumprimento dos nossos deveres sociais e religiosos.”

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