Iniciamos a 2ª semana do Advento com um chamado de São João Batista: “Preparai-vos!” (cf. Mt 5,1-12). Ele mesmo se preparava para acolher o reino de Deus, que estava às portas, com penitências e vida austera (v.4). E, junto do rio Jordão, chamava o povo a se preparar: “Preparai os caminhos do Senhor e endireitai as suas veredas” (v.3).
Ao povo que acorria, João Batista advertia sem meias palavras: convertei-vos e fazei obras que mostrem a vossa conversão. Não basta dizer: eu tenho religião, eu sei tudo sobre a religião! E ameaçava os impenitentes com o julgamento de Deus: “O machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não der bom fruto, será cortada e jogada ao fogo” (v.10). Assim, o Precursor se preparava e preparava o povo para acolher o Enviado de Deus, que iniciará sua pregação com o mesmo anúncio e apelo: “O reino de Deus está perto. Arrependei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15).
Essas palavras de João Batista e de Jesus nos recordam uma prática muito importante do Advento: preparar-se para acolher o reino de Deus, que Jesus Cristo anunciou e tornou presente entre os homens. Essa preparação pode significar muitas coisas: abrir-se mais à Palavra de Deus e da Igreja, rezar mais, fazer uma boa avaliação da própria vida, para saber se temos “caminhos tortos” a endireitar, se somos árvores que dão fruto bom ou não. No Advento, deveríamos também fazer uma avaliação crítica sobre as condições da vida pessoal, familiar, comunitária e social, da qual participamos: nela estão presentes os valores do reino de Deus ou existe fechamento e até oposição ao reino de Deus? “Fazer penitência”, no sentido cristão, é sempre uma prática voltada para a conversão: não fazemos penitência simplesmente para nos reprimir ou castigar, mas para nos corrigir e melhorar nossa conduta. Nossas práticas penitenciais neste tempo do Advento deveriam, de fato, consistir em “endireitar os caminhos”.
E não deveria faltar uma boa Confissão sacramental, para buscar e receber o perdão de Deus. Por outro lado, a preparação do Natal deve incluir a atenção e sensibilidade para com o próximo. Graças a Deus, neste período, acontecem muitas iniciativas de solidariedade fraterna para com os pobres, os enfermos, as pessoas idosas e tantos outros irmãos necessitados de atenção e amor. A caridade sincera é fruto da conversão a Deus e de nossa fé no significado profundo do Natal. O Filho de Deus assumiu a nossa “carne”, nossa natureza humana, mostrando o valor alto de cada ser humano. O mistério da encarnação do Filho de Deus em nossa condição humana, tornando-se irmão de cada ser humano, revela ao homem a sua imensa dignidade. O reconhecimento disso, pela fé, leva à prática do respeito por toda pessoa humana e à caridade fraterna.
Muitas outras coisas podem fazer parte desse tempo de preparação: dispor o ambiente familiar e social para a celebração do Natal de Jesus, indo além da corrida aos presentes, “amigos secretos” e confraternizações, que podem cansar rapidamente, quando não são acompanhados por uma motivação consistente; rezar mais, pessoalmente, em família, em grupos e na comunidade eclesial; celebrar a Novena do Natal, fazer as devoções a Nossa Senhora e com ela viver esse tempo de feliz espera, preparar um presépio cristão em casa e em outros ambientes de convivência, visitar pessoas e famílias pobres, os enfermos e pessoas idosas, para levar-lhes a alegria e a esperança do Natal. Nisso tudo, não deixar de envolver as crianças e os adolescentes, para que eles recebam e acolham como herança cultural e religiosa as belas tradições e práticas do Natal cristão.
Porém, esse “preparai-vos” refere-se a mais uma dimensão importante do Advento: preparar-se para ir ao encontro do Senhor quando Ele vier novamente “para julgar os vivos e os mortos”, conforme professamos em nossa fé. Este tempo litúrgico nos recorda de que a vida inteira da Igreja e nossa vida pessoal está orientada, queiramos nós ou não, para o encontro final com Deus e com o grande Juiz, que um dia virá glorioso “para julgar os vivos e os mortos”, conforme professa a fé da Igreja. O tempo litúrgico do Advento é breve e passará logo, mas essa espera do encontro final com Deus é permanente em nossa vida e na vida da Igreja. Somos peregrinos de esperança, de uma esperança que não desilude (cf. Rm 5,5).
Preparar-se, significa, então, não viver distraidamente, como se não tivéssemos que prestar contas a ninguém e nem mesmo a Deus. Significa ficar firmes durante esta vida e perseverar na fé, sem nos desviarmos do caminho de Deus; e, também, viver como peregrinos atentos à meta do seu peregrinar, para não se perder pela vida; e significa ser operosos e dinâmicos na caridade e na prática do bem. Enfim, como nos recorda a bela oração após a comunhão do 2º domingo do Advento, significa “dar o justo valor às coisas terrenas e colocar as nossas esperanças nos bens eternos”.






