Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, conhecida também como Santa Teresinha de Lisieux, é uma das figuras mais luminosas da espiritualidade católica moderna. Nascida em 1873, em Alençon, França, ingressou ainda jovem no Carmelo de Lisieux, onde viveu até sua morte, aos 24 anos, em 1897. Apesar da brevidade de sua vida, sua influência espiritual é imensa, especialmente após a publicação de sua autobiografia, História de uma Alma. Declarada Doutora da Igreja por São João Paulo II, em 1997, com a carta apostólica Divini Amoris Scientia, Teresa nos ensina que a santidade está ao alcance de todos por meio de um caminho simples e profundo: o “caminho da infância espiritual”, baseado na confiança e no abandono total a Deus.
A espiritualidade de Santa Teresinha se fundamenta radicalmente no Evangelho, sobretudo nas palavras de Jesus: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,3). Para ela, ser criança diante de Deus não significava ser imaturo, mas depender totalmente do amor do Pai, sem pretensões próprias, reconhecendo a própria pequenez com humildade e confiança. Ela escreve: “Compreendi que o Amor encerra todas as vocações… o Amor é tudo” (História de uma Alma, Ms B,3v). Essa confiança desarmada em Deus é o eixo central de sua espiritualidade. Teresa rejeitava a ideia de merecimento pelas obras e apoiava-se unicamente na misericórdia divina: “Quero trabalhar por teu amor, unicamente para agradar-te, consolar teu Coração Sagrado, salvar almas que te amem eternamente” (Ms C,3r). Sua famosa “pequena via” é, portanto, um caminho de amor, feito de gestos simples, mas carregados de significado sobrenatural, como sorrir quando se está cansada, aceitar uma humilhação sem retrucar ou oferecer cada pequeno sacrifício a Deus pelos pecadores.
A vida e os escritos de Teresa foram reconhecidos pelo Magistério como tesouro para toda a Igreja. São João Paulo II destaca: “A ciência do amor divino, que Teresa possui, não é fruto de estudos teológicos, mas um dom do Espírito Santo à alma dos pequenos que se abandonam totalmente a Ele” (Divini Amoris Scientia, n.3). O Papa observa que sua doutrina não apenas é ortodoxa, mas profundamente evangélica e transformadora para a vida cristã. Para o Papa Bento XVI, na encíclica Spe Salvi (2007), Santa Teresinha é exemplo de esperança cristã mesmo diante do sofrimento. Bento XVI escreve: “Santa Teresinha do Menino Jesus… cresceu em uma fé imbuída do amor de Deus, ao qual quis corresponder com toda a sua vida” (n. 32). Mesmo na noite escura da fé que enfrentou em seus últimos meses de vida, Teresa manteve-se firme, afirmando: “Mesmo que eu não tivesse fé, continuaria a fazer tudo o que faço” (Carta 244).
O testemunho de Teresinha ensina que a santidade é acessível a todos, não apenas aos grandes místicos ou mártires. Ela escreve: “Quero buscar um elevador para subir até Jesus, pois sou pequena demais para subir a escada da perfeição” (Ms C,2v). Esse “elevador” é o amor misericordioso de Deus, ao qual ela se entregou plenamente. Teresa não viveu milagres espetaculares em vida, mas revolucionou a espiritualidade católica com sua confiança radical e sua teologia vivida no cotidiano. Foi proclamada padroeira das missões, mesmo sem ter saído do convento, porque compreendeu profundamente o poder do amor escondido, ofertado a Deus.
Em um mundo marcado pela busca de grandezas e conquistas, a mensagem de Santa Teresinha é profundamente atual: a verdadeira grandeza está em reconhecer-se pequeno e confiar totalmente no Amor. Sua espiritualidade é uma resposta à inquietação moderna: um chamado à simplicidade evangélica e à confiança filial que tudo espera do Pai.