Santíssima Trindade

Pesquisas recentes informam que 89% dos brasileiros acreditam em Deus. Mas, que deus? Existe uma crença perigosa que povoa a mente de pessoas fanáticas que as torna intolerantes e violentas. Em nome de deus, dá para fazer muitas coisas, até coisas que não prestam.

Ao celebrar a festa da Santíssima Trindade, os cristãos têm a oportunidade de purificar seus corações de uma falsa ideia de deus espalhada entre nós.

No texto do livro do Êxodo, a motivação é ir ao encontro de Deus como fez Moisés. Ele levantou quando ainda estava escuro e foi encontrar-se com Deus levando duas pedras para que nelas fossem inscritos os Mandamentos. E Deus se revelou como misericordioso, paciente, rico em bondade, fiel, que caminha com o povo, mesmo que este seja de cabeça dura. Vejam: Deus se revela com um pai de bondade, que atua com misericórdia, cuida e acolhe. Mentes perversas que insistem na figura de um deus que castiga, exclui e causa medo, na verdade estão disseminando uma falsa imagem de Deus, porque o Deus dos cristãos é amor.

A certeza de que Deus é amor está contida no texto do Evangelho segundo São João, que garante: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que Nele crer, mas tenha a vida eterna”. É um gesto extremo de amor que Deus faz por nós ao se fazer um de nós na pessoa do Filho e se encarnar. Em tudo o Filho revelou a face amorosa do Pai: perdoando a mulher que estava por ser apedrejada, indo em busca da ovelha perdida, curando os doentes, alimentando os famintos, acolhendo crianças, protegendo órfãos e viúvas… e, por fim, se entregando por amor, sendo glorificado na Cruz.

Para uma melhor compreensão da ação e presença da Santíssima Trindade, proponho a contemplação da escultura da irmã Caritas Muller. Nela, o Pai está carinhosamente inclinado, com um dos joelhos em terra, esforçando-se para levantar uma pessoa caída. Deixa a impressão de que o sentimento é de ternura e carinho, seu rosto se aproxima e beija o rosto inerte da pessoa ferida, tal quais os beijos e abraços quando retornou o filho pródigo.

O Filho ajoelha e se inclina profundamente. Ele se rebaixa à mesma condição do ser humano. Ele segura e sustenta com suas mãos os pés da pessoa ferida, lava-os, cura as feridas com carinho e beija seus pés. Em Jesus, Deus se abaixa para estar mais perto da miséria do ser humano.

O Espírito Santo desce em forma de pomba e de fogo. Com seu bico, beija a pessoa caída e lhe transmite o sopro de vida. Como um fogo, aquece aquele que está desfalecido.

Pai, Filho e Espírito Santo se preocupam com a pessoa caída. Ela está no centro e é de cor mais escura, cor da terra, um ser criado por Deus que estaria sem vida não fosse o sopro divino (Padre José Adroaldo). Vidas caídas importam, “vidas negras importam”, toda vida importa, pois o Deus que cremos é o Deus da vida.

A Santíssima Trindade é a perfeita comunidade. E para ser comunidade perfeita, a modelo da Trindade Santa, o apostolo Paulo oferece elementos preciosos que revelam o rosto de uma comunidade cristã: alegria, busca da perfeição, encorajamento mútuo, união, paz e beijo fraterno. Todas essas características são como ferramentas para que a comunidade possa ser o lugar da presença e manifestação de Deus. A alegria é manifestação de uma comunidade que se sente amada por Deus, sendo capaz de contagiar e transformar. A busca da perfeição é o reconhecimento dos limites, mas a certeza de que é possível melhorar o que se está fazendo. O encorajamento mútuo é aquele companheirismo saudável que motiva os irmãos a superarem os possíveis percalços que a vida oferece. Por fim, o beijo fraterno, o ósculo litúrgico, símbolo da fraternidade cristã.

Diante de um Pai que se inclina para beijar a pessoa desfalecida, do Filho que beija os pés de quem está caído e do Espírito que transmite o sopro da vida, a comunidade cristã chama para si a responsabilidade de oferecer sua pequena contribuição com gestos de amor para reproduzir a beleza da Trindade Santa. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

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