São Vicente de Paulo, testemunha da esperança

Neste ano, em 17 de abril, serão celebrados os 400 anos de fundação da Congregação da Missão, ou dos Padres Vicentinos, ou ainda, dos Padres Lazaristas. Seu fundador, São Vicente de Paulo, é um dos grandes santos da Igreja; sua obra inspiradora e dinâmica, no genuíno testemunho do Evangelho e no amor à Igreja, perdura nos séculos e segue viva ainda hoje.

Por esses motivos, no dia 1º de fevereiro teve início a peregrinação de relíquias de São Vicente e de uma réplica artística de seu corpo na arquidiocese de São Paulo, promovida pelos Padres Vicentinos. As relíquias passarão por 18 paróquias de nossa Arquidiocese, sendo 3 em cada Região Episcopal. Trata-se de uma boa ocasião para um encontro com esse Santo importante da nossa Igreja e para viver, seguindo o exemplo dele, como “peregrinos de esperança”.

São Vicente de Paulo nasceu em abril de 1581, no centro-sul da França, filho de família camponesa pobre, da qual recebeu boa educação humana e cristã. Tinha facilidade para os estudos e foi encaminhado para o sacerdócio. Com apenas 19 anos de idade, foi ordenado padre e continuou os estudos em Direito Canônico. Em 1608, chegou a Paris, onde passou o resto de sua vida em intensa atividade pastoral e caritativa. Em 1617, fundou as Damas da Caridade; em 17 de abril de 1625, fundou a Congregação da Missão, que foi aprovada pelo arcebispo de Paris já em 1626. Em 1633, deu origem à Companhia das Filhas da Caridade, confiando sua formação a uma viúva animada pelos mesmos sentimentos de caridade, Santa Luiza de Marillac.

Em 1635, fundou um centro missionário para evangelizar o norte da França e para atender os pobres, sobretudo as crianças. Em 1641, a sua Congregação abriu um seminário em Paris para a melhor formação do clero. Enquanto isso, já eram enviados os primeiros missionários vicentinos para várias missões estrangeiras na Tunísia, Argélia, Madagascar e Polônia. Ao mesmo tempo, ele era requisitado como conselheiro dos reis da França. Faleceu em 27 de setembro de 1660 e foi beatificado pelo Papa Bento XIII em 1729. Sua canonização aconteceu em 16 de junho de 1737, com o Papa Clemente XII.

São Vicente de Paulo viveu em um tempo difícil para a Igreja, quando esta procurava colocar em prática o Concílio de Trento. Havia grave carência de formação do clero e ele se empenhou na formação sacerdotal, oferecendo esse serviço de sua Congregação para ajudar muitas dioceses. Uma outra necessidade muito grande era a formação cristã do povo. São Vicente dedicou-se às missões populares e, com esse objetivo, deu o nome de Congregação da Missão à sua fundação religiosa. Ele também teve os olhos e o coração abertos à pobreza e à miséria do povo e se dedicou à caridade, criando obras de amparo à infância e aos enfermos. Ao mesmo tempo, recomendou às Filhas da Caridade que se dedicassem à educação, pois esta também é uma obra de caridade muito importante. No seu exemplo e dinamismo, inspiraram-se muitas iniciativas de caridade que perduram até hoje, como as Conferências Vicentinas presentes em muitas paróquias também de São Paulo.

São Vicente de Paulo foi um verdadeiro “peregrino de esperança” que, diante dos desafios e problemas do seu tempo, não cruzou os braços, apenas lastimando-se contra os males sociais. Animado pela fé, por firme esperança e ardente caridade, São Vicente pôs-se a trabalhar e a envolver outras muitas pessoas em suas iniciativas. A esperança cristã não é passiva nem deixa de olhos fechados e inertes diante dos problemas da Igreja e do mundo, ou diante dos sofrimentos do próximo. A ação do Espírito Santo, acolhida com fé sólida e a caridade ardente, não deixa resignar-se diante dos males, mas desperta em nós a bem-aventurada esperança no Reino de Deus, na vitória sobre as potências do Mal, nos novos céus e na nova terra (Oração do Jubileu).

A peregrinação das relíquias de São Vicente de Paulo, durante o Ano Jubilar “da esperança”, pode ser ocasião para a redescoberta da força transformadora da “feliz esperança”, que animou São Vicente, assim como os Santos e os Mártires ao longo da História. Teria sido diferente com São José de Anchieta e tantos missionários, ao se embrenharem nas florestas brasileiras para encontrar os irmãos indígenas? Ou com os que, como Santa Teresa de Calcutá, Santa Paulina e Santa Dulce dos Pobres, não hesitaram em enfrentar todo tipo de dificuldades para oferecer amor aos pobres e enfermos? Ou com aqueles que, mesmo com ameaças, torturas, prisões e, finalmente, o martírio, não deixaram de confessar sua fé em Jesus Cristo Salvador?

Os Santos são “peregrinos de esperança”, da esperança “que não desilude”; eles irradiaram e continuam irradiando no mundo aquela esperança que vai além das capacidades humanas pois, qual âncora firme e segura (cf. Hb 6,19), ela está fundada n’Aquele que é fiel às suas promessas (cf. Hb 10,23).

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