Chegamos a setembro, mês tradicionalmente dedicado à Bíblia, ocasião em que a Igreja assinala a necessidade de todos os fiéis terem mais intimidade com a Palavra de Deus, a fim de poderem vivê-la de forma concreta nas situações de cada dia.
Assim, a vivência do Evangelho encarnado a partir da Palavra, a busca pela santidade cotidiana e o desejo de fazer a vontade de Deus não é privilégio de poucos, mas uma realidade ao alcance de todos. Nesse sentido, há um chamado divino à santidade, dirigido a toda a humanidade, e a vida dos santos atesta que todos eles, com a graça de Deus e muito esforço, foram capazes de viver heroicamente as virtudes que lhes garantiram o céu. Não foram pessoas dotadas de qualquer dom especial, mas moldaram suas histórias, na simples rotina de cada dia, àquilo que o Senhor lhes pedia.
No domingo, 7, dois jovens que viveram dessa forma serão elevados aos altares: Carlo Acutis, falecido aos 15 anos em decorrência de uma leucemia, cujo apostolado se deu pela internet; e Pier Giorgio Frassati, que morreu de poliomielite aos 24 anos, e fez do trato com os pobres sua grande missão.
Embora não tenham vivido na mesma época, a “normalidade” do cotidiano de ambos impressiona: Antonia Acutis, mãe de Carlo, em recente entrevista ao jornal National Catholic Reporter, dos Estados Unidos, traçou um paralelo entre a vida de santidade de seu filho e a de Frassati.
“Tanto Carlo quanto Pier Giorgio compartilhavam o amor pela Eucaristia, o amor pelos pobres e o amor pela Virgem Maria. Tinham intensa vida de oração, dedicavam-se ao serviço aos pobres e detinham habilidades com a matemática. Esses dois são modelos dos quais precisamos, neste momento especial, para os jovens de hoje”, afirmou.
Ela contou que Carlo “tinha um dom para programação de computadores porque era um gênio da computação. Ele usava [as linguagens] C++ e Java aos 9 anos, quando já lia livros didáticos de programação que seu pai e eu comprávamos na Universidade Politécnica de Milão”.
Antonia partilhou ainda que Carlo “criava programas estatísticos para seu pai, que era segurador. Era algo incrível, mas ele usava suas habilidades de programação, acima de tudo, para evangelizar.”
Apesar da aptidão natural, a mãe de Carlo contou que ele talvez tivesse outros planos para o futuro, revelando algo que muita gente não sabia sobre o santo millenial.
“Ele estava pensando em se tornar padre. Antes de morrer, me perguntou o que eu achava dessa ideia. Ele também perguntou à avó. Acredito que essa era a intenção dele. Além disso, ele queria se tornar catequista. Essa ideia surgiu espontaneamente. Certamente, ele tinha um chamado”, afirmou ela.
Antonia destacou, também, que “Pier Giorgio não tinha uma família muito devota. Sua mãe era religiosa, mas não como ele, que ia à missa e à adoração eucarística todos os dias. Durante o verão, Pier Giorgio costumava ir à Eucaristia diária saindo pela janela. Havia apenas uma celebração no início da manhã, e ele pulava a janela, descia pela parede usando um lençol, para não fazer barulho e acordar os pais”, revelou Antonia.
Quanto à maneira como testemunharam a vida cristã, Antonia contou que Pier Giorgio dizia: “Dobbiamo vivere, non vivacchiare”, que significa: “Precisamos viver, não apenas sobreviver”.
“Tanto ele quanto Carlo se assemelham: colocam a missa no centro, a adoração eucarística, a assistência ao próximo e, acima de tudo, o anúncio do Evangelho”.
Antonia sublinhou que Pier Giorgio tinha um apostolado para os outros: para seus amigos da universidade e para os pobres. O apostolado de Carlo era feito por meio da internet, com sua exposição sobre milagres eucarísticos que percorreu o mundo e está convertendo muitas pessoas e ajudando muitas almas.
“Tanto Carlo quanto Pier Giorgio tinham muitos amigos. Eram pessoas com quem os outros se divertiam e riam, pois eram brilhantes e cheios de vida. Pier Giorgio adorava fazer trilhas nas montanhas e costumava escalar picos. Claro, Pier Giorgio tinha alguns defeitos, como todos nós. Carlo também os tinha. Ele amava Coca-Cola e Nutella! Cada um deles tinha seus limites, porque ser santo não é ser sobre-humano. O que os diferenciava era que ambos eram seres humanos que lutavam contra seus próprios defeitos. Conseguiam viver virtudes heroicas”, concluiu Antonia.
Agora, esses dois jovens, ao se tornarem santos, revelam que a vida cotidiana é o grande campo que permite a Deus lançar as sementes para que a santidade floresça. Então, uma nova lição que podemos aprender com Carlo e Pier Giorgio é que a felicidade não se opõe à santidade! E, mais ainda, talvez seja um resultado direto dela!