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Subiu aos céus. A feliz esperança

A celebração da ascensão de Jesus ao céu, no contexto do Ano Jubilar “da esperança” é ocasião para uma reflexão especial sobre o significado da ascensão e glorificação de Jesus no céu. Baseada no testemunho firme dos apóstolos, a Igreja anuncia que Jesus, depois de sua morte na cruz e de sua sepultura, voltou à vida e está na glória de Deus. Não à mesma forma de vida de antes da sua dolorosa paixão e morte, mas revestido de vida sobrenatural, na glória de Deus.

Os apóstolos, inicialmente, ainda assustados por causa do drama da morte violenta do Mestre, tiveram dificuldades para reconhecê-Lo. Em seguida, porém, O reconheceram sem nenhuma dúvida, sobretudo quando Ele lhes dirigiu a palavra. Questionados quanto a esses encontros com Jesus ressuscitado, eles sustentaram o que afirmavam, até mesmo à custa de torturas, prisões e martírio.

Narram os testemunhos dos apóstolos que Jesus, quarenta dias após a sua ressurreição, elevou-se ao céu, à vista deles, até que uma nuvem O envolveu. Depois, não foi mais visto, embora Ele tivesse prometido ficar com eles todos os dias, até o fim dos tempos. Assim, Jesus cumpria o que prometera ainda antes da sua paixão e morte: “Vou para o Pai”. Ao subir ao céu, Jesus abençoou os apóstolos e os mandou em missão, para anunciar o Evangelho e para serem suas testemunhas por toda parte. Esses são os poucos fatos relativos à ascensão de Jesus ao céu, encontrados no Novo Testamento.

Porém, o significado da ascensão de Jesus ao céu é muito vasto, bonito e importante para Jesus e para nós. Antes de tudo, quem é este que subiu ao céu e foi assumido na glória de Deus? Ele é o Filho de Deus que, antes, “desceu do céu”, entrou no mundo da criação, assumiu a nossa “carne” no seio da Virgem Maria e se fez um de nós, desvestindo-se de sua glória divina. Sem deixar de ser o Filho do Eterno Pai, Ele uniu a si a nossa humana condição e foi reconhecido como verdadeiramente humano, ao ponto de também se submeter ao sofrimento e à morte. Ele uniu em si, na pessoa do Filho de Deus, a natureza divina e a natureza humana. Durante a sua vida neste mundo, não deixou de ser o Filho eterno, mas a sua glória divina ficou envolvida pela fragilidade e precariedade da existência humana.

Esse mesmo Jesus, ao ressuscitar dos mortos “para entrar na glória”, elevou-se ao céu, “onde está sentado à direita do Pai”. O Filho, porém, não voltou à glória do Pai da mesma maneira que “desceu do céu”. Ao subir ao céu, ele foi revestido também de nossa humanidade, unida inseparavelmente à sua divindade. Por isso, São Paulo proclama, junto com os primeiros cristãos: “Ele é o primogênito dentre os mortos” (cf. Cl 1,18). E a liturgia da festa da ascensão proclama: “Ó Deus, a ascensão do vosso Filho já é nossa vitória (…) pois, como membros do seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória” (Coleta da Missa).

Para Jesus, a ascensão significou a plenitude de sua missão redentora, que só se completa mediante a definitiva participação na glória de Deus. E para nós, a ascensão aponta para a meta final da obra redentora: a participação na glória de Deus. Por isso, este mistério da nossa fé é todo marcado pela alegria e pela esperança. A liturgia da festa está cheia de referências à alegria e à exultação, pois ela se refere a uma promessa imensa e plena para a condição humana. Na Carta aos Efésios, o autor expressou seu desejo profundo de que os cristãos conheçam e compreendam, com a ajuda da graça de Deus, “qual é a esperança que o chamamento (divino) nos dá; qual a riqueza da glória que está na nossa herança com os Santos” (Ef 1,17-23). A Carta aos Hebreus compara a ascensão de Jesus à entrada do sumo-sacerdote no santuário para apresentar diante de Deus as preces e oferendas dos fiéis. Jesus entrou no santuário do céu, como sumo-sacerdote dos bens futuros e se apresentou diante de Deus Pai, em nome da humanidade, com o seu sacrifício na cruz e seu sangue derramado pelos pecados. Assim, “Ele nos abriu um caminho novo e vivo, para nos apresentarmos diante de Deus por meio de Jesus Cristo glorificado (cf Hb 9, 11-12.24-25). Por isso, “sem desânimo, continuemos a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa” (Hb 10,23).

A solenidade da ascensão do Senhor ao céu mostra, portanto, a feliz esperança que nos foi dada e o horizonte luminoso da existência humana, que não está fadada à frustração e à desilusão. Não vivemos apenas para experimentarmos a precariedade da existência presente. Somos chamados e atraídos para a plenitude da vida. Essa grande esperança não nos aliena das realidades presentes, mas lhes confere um sentido novo e absolutamente promissor. Por isso, vale a pena viver, já neste mundo, buscando em tudo a glória de Deus, por meio da realização fiel de sua vontade. É ainda a liturgia da festa que nos ajuda a expressar isso na fé da Igreja: “Ó Deus, fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças pois, na ascensão do Cristo, vosso Filho, nossa humanidade foi elevada junto de vós e, tendo Ele nos precedido como nossa cabeça, nos chama para a glória como membros do seu corpo” (Coleta da Missa).

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