Em 4 de agosto, celebramos o Dia do Sacerdote. Dia de gratidão, sempre e sem dúvida. Gratidão a Deus, à família, aos amigos e amigas de caminhada e às comunidades que nos acolhem e tanto nos ensinam. Gratidão indelével e eterna, gravada a ferro e fogo no velho pergaminho da história.
Mas, atualmente, neste “dia de festa e de comemoração”, cabe-nos também sofrer e suportar a sensação de fracasso e impotência diante do que, em algumas vezes, parece ser uma semeadura inócua e sem colheita. Será que a voz do sacerdote e/ou profeta já experimentou um deserto tão árido, uma intolerância tão indiferente, um tempo tão surdo, cego e mudo e corações empedernidos e tão contumazes?
Será que o terreno já foi tão inóspito à semente da Palavra viva, mas também da conscientização, da organização e da mobilização em vista de mudanças!?… Quantas bênçãos são precisas para exorcizar tanto ódio e mentira, tantos males e maldições, tanta guerra e violência, tanta máscara e difamação – coisas que rondam a vida e a porta de cada pessoa ou família!?… Quantas palavras sem raízes na Palavra de Deus, mas quase que copiadas e coladas a partir dos influenciadores das redes digitais, os quais, muitas vezes, como tambores rolando no asfalto, fazem tanto mais barulho quanto mais vazios estão!?…
Quanto silêncio infértil e infecundo diante do rumor bárbaro e assombroso de tanques e canhões, metralhadoras e balas, drones e mísseis, bombas e bombardeios que explodem, reduzindo edifícios e gente a ruínas, cadáveres e mutilados!?… Quantos governantes convertidos em ditadores e tiranos, usando o ruído ensurdecedor de seus berros ou o silêncio estridente de suas canetas para romper acordos, semear caos e medo, em proveito de um punhado de oportunistas de plantão!?… Quantas pessoas e famílias, migrantes, apátridas e refugiados vagueiam pelas estradas do êxodo, do exílio, da fuga, da diáspora, como aves de arribação, sem encontrar um lugar onde firmar os pés, a vida e um amanhã renovado!?…
Quanta gente cabisbaixa, às dezenas e centenas, talvez aos milhares, olhar preso ao chão, sem rosto, sem nome, sem família e sem endereço fixo; busca uma migalha de pão e carinho, com o desespero de não saber o que comer no dia seguinte!?… E quantas crianças, não raro órfãs de pais vivos, de olhos sujos, turvos e torvos, sem mais confiança nos adultos que as cercam, tentando apenas uma sobrevivência que sempre lhes escorrega por entre os dedos manchados de fome ou droga!?…
Quanta pobreza, exclusão, miséria e carência, ao lado do luxo de mesas fartas e opulentas, bem como da insanidade do descarte; pior ainda, ao lado de bens de ostentação, como jatinhos, Ferraris, iates, mansões, armas, coleções que só fazem aprofundar o fosso das assimetrias!?… Que faz o sacerdote diante de tanta concentração, lado a lado com tanta exclusão? Que fazem os ministros e ministras de Deus? Como silenciar os arrogantes, em benefício da beleza dos pássaros, das crianças e das flores? Como calar as bombas e entoar hinos à paz? Como abater os muros para erguer pontes? Como superar a intransigência em favor do diálogo e da solidariedade? Como ver nas diferenças fatores de riqueza e não de divisão?
No caminho, não faltam medos, dúvidas, obstáculos, turbulências e tempestades. Entretanto, como ministros ordenados, sacerdotes intercessores entre o humano e o divino, somos movidos pela fé, pela graça de Deus e pela esperança. Esperança de que cada palavra e cada gesto, cada visita e cada bênção, cada sacramento e cada celebração constituem sementes vivas. E cada semente, por sua vez, e por menor que seja, contém em si mesma o potencial de uma nova vida; capaz de, na qualidade de discípulos e missionários de Jesus Cristo, produzir folhas, flores e frutos.