Experimentando o luto da perda de nosso amadíssimo Papa Francisco, que, de maneira muito intensa, nos presenteou em dispor o rosto de Deus misericordioso, deparamo-nos com um grande pedido: “Não falar dos outros”. Nos lábios do Papa: “O fofocar é um ‘ato terrorista’, pois você, com a fofoca, joga uma bomba, destrói o outro e você segue tranquilamente! Por favor, nada de fofocas. Seria bom colocar um cartaz na entrada: ‘Nada de fofocas’. Aqui, no Palácio Apostólico, há um ícone da Nossa Senhora do Silêncio na entrada do elevador no térreo: é Nossa Senhora que diz: ‘Nada de fofocas’” (Papa Francisco, Discurso à comunidade do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, Roma, 21 de outubro de 2017).
Nesse sentido, quando nos tornamos “críticos” ao falar dos outros, sujamos o mundo e a bela imagem de Deus que está em cada pessoa. Além disso, arrancamos do rosto das pessoas a beleza de Deus e colocamos uma espécie de “máscara da feiura e do mal”. De igual modo, tornamo-nos “feios” quando, ao olhar no espelho, vemo-nos manchados com o sangue do irmão que matamos com a nossa língua; o Senhor nos perguntará, como perguntou a Caim: “Onde está o teu irmão?” (cf. Gn 4,9-10). Esta atitude é o produto daqueles que não se conhecem profundamente e, por isso, julgam; em vez disso, aqueles que se conhecem realmente amam e, no máximo, corrigem, isto é, “suportam com você” seu erro e o seu pecado.
Os antídotos e os remédios contra a fofoca e a calúnia, segundo o Papa Francisco, são a oração, o perdão, não olhar para os outros, mas para si mesmo, a fim de que se tenha um conhecimento profundo de si diante de Deus. Além desses, outros remédios que poderíamos prescrever contra este mal são: a misericórdia, o diálogo, relacionamentos verdadeiros e autênticos.
O que as formigas fazem pelo mundo? O que as abelhas fazem pelo mundo? O que as borboletas fazem? Ninguém se importa com elas, porque são seres pequenos e não os vemos agir. As formigas, porém, podem carregar de duzentas a trezentas vezes o seu peso; trabalham silenciosamente, dia e noite, para construir o formigueiro e sustentar o mundo; como podemos criticá-las? Há uma perfeição maravilhosa e extraordinária, além de existir uma arquitetura natural nas ações das abelhas. Pensemos em todas as coisas que as abelhas produzem: como podemos julgá-las? Pensemos nas borboletas: se as eliminássemos do mundo, tiraríamos a beleza da sua leveza e liberdade. Muitas pessoas são como formigas, abelhas e borboletas. Só Deus conhece o coração do homem e suas ações: o homem olha as aparências, que muitas vezes enganam, iludem e marcam uma pessoa sem que sequer percebamos. Fofocas, murmurações e falar mal dos outros deixam nossos corações e rostos tristes, sem a beleza, a leveza e a sustentação da vida.
Busquemos, portanto, o maior dos caminhos contra esta doença espiritual do falar dos outros: o caminho do silêncio. O silencio é um caminho sensível e espiritual que começa no ouvido, chega à boca, termina na mente e repousa no coração. Devemos pedir em nossas orações a graça de discernir quando devemos falar e quando devemos calar. E isso ao longo de toda a vida: no trabalho, em casa, na sociedade, em toda a vida. Assim, seremos imitadores de Jesus. De tudo isso, fiquemos com um pensamento: o dom da palavra é lindo, mas a sabedoria do silêncio é perfeita! Aproveitemos, ainda, para elevar a Deus a nossa gratidão pela vida e o ministério pastoral do Papa Francisco que, com esperança e misericórdia, soube conduzir a Igreja e o seu povo.