A Páscoa é o cume da liturgia. Aí está a síntese de nossa crença. São Paulo a resume nesta expressão, tantas vezes repetida: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé” (1Cor 15,17), como escrevia o Cardeal Eugenio de Araujo Sales, na Páscoa de 1988.
Dom Eugenio, ainda, destacava: “O fato rigorosamente histórico é contestado pelas forças do Maligno, mas, evidentemente, sem resultado. A vitória de Cristo sobre a morte, alcançando a Redenção do gênero humano, começa a ser comemorada na noite de sábado. Ela é chamada, por Santo Agostinho, de ‘Mãe de todas as vigílias’. E culmina com o esplendor do domingo de Páscoa”.
A liturgia católica vem em nosso auxílio para vivermos a Oitava da Páscoa e o tempo de Páscoa que dura 50 dias (sete vezes sete dias), de maneira riquíssima. Assim como vivemos o tempo de Quaresma em preparação para a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, agora se inicia um novo tempo que inclui, em primeiro lugar, o Domingo de Páscoa com os sete dias seguintes (que culminam no Domingo in Albis, chamado hoje da Divina Misericórdia) e continua por mais 40 dias até a Ascensão, para terminar no 50° dia, em Pentecostes.
Podemos pensar: como viveram os primeiros cristãos esse período? Coloquemo-nos na cena dos Santos Evangelhos. Traga à sua memória o que vivemos na liturgia da Semana Santa, do Domingo de Ramos até a Páscoa. Pare de ler por um instante este texto e, em seguida, faça-se a seguinte questão: se fosse você um dos apóstolos ou um dos discípulos, quem você seria? Qual papel assumiria? E coloque-se, novamente, na cena. Se Cristo lhe dissesse: “Agora é com você, ide e pregai o Evangelho a todas as criaturas”, o que faria?
Nesse período, vale também meditar sobre a instituição da Eucaristia. Imaginemos a cena. Depois do convívio intenso por cerca de três anos, na Última Ceia, os apóstolos e discípulos recebem um encargo sem precedentes, dado pelo próprio Cristo. Agora, eles precisam transmitir às gerações de sua época e às futuras gerações, uma nova forma de estarmos com Jesus Cristo, de vivermos com o Cristo e de Ele estar presente conosco, pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar. Novamente, se fosse você, o que faria?
Paremos e pensemos em todo o desenvolvimento da Igreja Católica até chegar àquilo que chamamos de pilares que sustentam a fé – a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério – é preciso reconhecer o trabalho daqueles que nos precederam e, sobretudo, termos presente que cabe à nossa geração dar continuidade e defender o depósito de nossa fé.
Não podemos ignorar a história da Igreja Católica. Precisamos atualizar como transmitir as verdades da fé para torná-la acessível, como por exemplo, o Papa Bento XVI o fez, por ocasião de um encontro com as crianças, em 2005 sobre a Eucaristia. Uma delas, chamada André, perguntou: “Papa, ao preparar-me para o dia da primeira Comunhão, a minha catequista disse que Jesus está presente na Eucaristia. Mas como? Eu não o vejo!”
A resposta do Papa Bento XVI foi a seguinte: “Não, não O vemos, porém são muitas as coisas que não vemos, mas que existem e são essenciais. Por exemplo, não vemos a nossa razão, mas nós temos uma razão. Não vemos a nossa inteligência, mas temos uma inteligência. Em uma palavra, não vemos a nossa alma e, no entanto, ela existe e vemos os seus efeitos, porque podemos falar, pensar, decidir etc.
[…]
Em resumo, as coisas mais profundas, aquelas que realmente sustentam a vida e o mundo, nós não as vemos, mas podemos ver e sentir os efeitos que produzem. Não vemos a eletricidade, a corrente elétrica, mas vemos a luz. E assim por diante. Assim acontece com o Senhor ressuscitado: não O vemos com os nossos olhos, mas vemos que onde Jesus está, as pessoas mudam, tornam-se melhores. Cria-se maior capacidade de paz, de reconciliação etc.
Portanto, não vemos o Senhor em carne e osso, mas vemos os efeitos que Ele produz: compreendemos, assim, que Jesus está presente. Como disse, exatamente as coisas invisíveis é que são as mais profundas e importantes. Por isso, vamos ao encontro desse Senhor invisível, mas poderoso, que nos ajuda a viver bem”.
Que Nossa Senhora, Maria Santíssima, interceda por nós junto ao Paráclito, o “Deus desconhecido”, invisível aos nossos olhos, para que venha aos nossos corações e com a Sua graça, renovemos a face da terra.