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Vida religiosa 

Ao longo deste mês de agosto, vimos meditando sobre os diversos estados de vida que podem configurar o seguimento de Cristo. A primeira vocação de que tratamos foi o sacerdócio – na mesma semana em que comemoramos a memória litúrgica de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars e padroeiro dos párocos. Na sequência, falamos da vocação matrimonial, no ensejo do Dia dos Pais. Nesta terceira semana, queremos meditar sobre a vida religiosa, colocando-a em relação com a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, que celebramos no último domingo. Mas a conexão, aqui, não parece tão evidente: afinal de contas, que relação existe entre a vocação dos que se consagram pelo Reino de Deus e a Assunção da Virgem? 

Para respondermos a esta pergunta, convém relembrarmos o que diz o dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao céu. É verdade que todos os santos “vão para o céu” quando morrem – mas o caso de Nossa Senhora é especial. O caminho normal dos cristãos que morrem em amizade com Nosso Senhor é que suas almas vão imediatamente para o Céu, mas o seu corpo continua aqui nesta terra, e, em geral, se decompõe. A nossa fé, porém, nos diz que, no fim dos tempos, quando Jesus “de novo há de vir para julgar os vivos e os mortos”, os corpos serão reformados e os bem-aventurados poderão passar a eternidade em corpo e alma no céu. 

No caso de Nossa Senhora, este processo é um pouco adiantado: desde já, ela já goza do Céu em seu corpo e em sua alma, de certa forma antecipando o destino que nós também somos chamados a partilhar. Na Virgem Santíssima, os Novíssimos e as realidades eternas são antecipados e vividos desde logo. 

E justamente aqui está a conexão com a vida religiosa, esta virgindade assumida por amor do Reino (cf. Mt 19,12). Este modo de vida é assumido, desde o princípio da Igreja, por homens e mulheres que renunciam ao grande bem do Matrimônio para seguirem o Cordeiro aonde quer que Ele vá, e para dedicarem-se inteiramente às coisas do Senhor (Catecismo, n.1618). 

Os religiosos e as religiosas são, para toda a Igreja e especialmente para os casados, um sinal poderoso de que a união mais importante de todas é a união com Cristo, e de que até mesmo o Matrimônio é uma realidade do tempo presente, passageiro, “até que a morte os separe” (Catecismo, n.1619). 

Isso não deve de modo algum ser interpretado no sentido de diminuir a dignidade do Matrimônio, pois “denegrir o Matrimônio é, ao mesmo tempo, diminuir a glória da virgindade: enaltecê-lo é realçar a admiração devida à virgindade (…) Porque, no fim das contas, o que só em comparação com um mal parece bom, não pode ser um verdadeiro bem: mas o que ainda é melhor do que bens incontestados, esse é que é o bem por excelência” (São João Crisóstomo, De Virginitate 10,1). 

Agradeçamos, então, a Deus pelos nossos religiosos e religiosas, esses “eunucos por causa do Reino dos Céus”, que, com sua fidelidade, nos relembram continuamente de que existe a vida eterna, e de que de nada adianta ao homem ganhar o mundo inteiro em troca de sua alma (Mc 8,36). 

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