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Viva e cheia de esperança

Nos dados do Censo de 2022, do ponto de vista religioso, chamou a atenção o “envelhecimento” da população católica no Brasil. O fenômeno é mais acentuado no Sul e Sudeste e nas grandes metrópoles. Como compreender esses dados sobre a adesão dos jovens à fé e à vivência religiosa da Igreja Católica?

As possíveis explicações podem ser diversas. A mais óbvia é que a natalidade no Brasil caiu muito nas últimas três décadas. Em outras palavras, há menos jovens de origem católica do que em outros tempos e a população católica, na média, vai ficando mais idosa. Outra explicação possível é que as famílias católicas vão deixando de batizar seus filhos, ainda na infância; como consequência, muitos desses filhos, quando adolescentes e jovens, não se identificam com a Igreja Católica e fazem falta no rejuvenescimento das comunidades.

Há uma outra explicação, que merece nossa especial atenção e a apresento em forma de questionamento: será que, como Igreja Católica, fazemos o que é necessário para que os jovens se sintam “em casa” na Igreja e tomem parte dela com alegria e entusiasmo? Infelizmente, constatamos que, em muitas paróquias, não há nenhum trabalho pastoral voltado para a juventude; nesses casos, o que esperar para o futuro, senão bancos vazios nas igrejas? Apesar das seguidas “opções preferenciais pela Juventude”, feitas pelas Conferências do Episcopado da América Latina e do Caribe em Santo Domingo e Aparecida, bem como pela CNBB, essa “opção” acabou acontecendo pouco.

E, quando existe alguma iniciativa voltada para a juventude, nem sempre se trata de ajudar os jovens a aproximar-se de Deus e da vida da Igreja. Tantas vezes, pretendemos ter jovens “militantes”, mas não os ajudamos a serem verdadeiros discípulos de Jesus e membros da Igreja. Na prática, os jovens fazem as suas opções e, conforme mostrou o Censo, muitos deles optam por algum grupo evangélico aos cultos de origem africana ou ao indiferentismo diante da fé e da religião. A fé católica e a vivência cristã na Igreja Católica deixaram de ser interessantes para os jovens? Seria bom ouvi-los e perceber quais sãos as suas razões e suas buscas.

Mas existe o outro lado da medalha e falo pela experiência na arquidiocese de São Paulo: mais do que em outros tempos, temos atualmente a procura de jovens e adultos pelo Batismo, a Eucaristia, a Confissão e a Crisma. E, com isso, formam-se grupos de catequese de iniciação à vida cristã de jovens e adultos, nos quais há um grande interesse pela fé e pela Igreja. Por outro lado, há os jovens que vão atrás de segurança religiosa e moral, seguindo “influencers”, nem sempre devidamente sintonizados com o magistério da Igreja. O fenômeno, porém, revela que existe um interesse mais difuso dos jovens pela fé do que possamos imaginar. Além do mais, se existem críticas à Igreja Católica por erros do passado e maus exemplos de alguns de seus membros também no presente, continua existindo a busca de expressões religiosas “criativas”, nas quais os jovens se sentem envolvidos em primeira pessoa, mesmo sem haver um compromisso formal com uma instituição religiosa ou eclesial. Os jovens, em geral, não perderam o interesse pela fé.

A juventude pode estar enfrentando dificuldades “culturais” em relação à Igreja Católica, sobretudo quando ela é apresentada como uma instituição “clerical” do passado, que só tem “nãos” a dizer aos jovens e está voltada sobre si mesma e seus interesses temporais. Quem critica a Igreja diante dos jovens, acaso faz alguma menção à realidade profunda e bela da Igreja, como a comunidade viva dos que creem em Jesus Cristo, caminham com Ele e que tem uma grande proposta de vida, fraternidade, justiça, amor e esperança a lhes propor? E quem explica aos jovens que também eles são, ou podem ser, “discípulos-missionários de Jesus Cristo”, sem deixar de ser profissionais, artistas, funcionários públicos, casados ou solteiros, sacerdotes, religiosos, missionários?

Não podemos cair na tentação de “pregar a nós mesmos” aos jovens, mas devemos ser testemunhas d’Aquele que é “o caminho, a verdade e a vida”. E os jovens precisam saber mais sobre a vida dos Santos jovens que, no passado e no presente, encantaram a tantos, levando-os ao encontro de Cristo e à experiência da fé na Igreja. É impressionante ver o fascínio que o adolescente Carlo Acutis, que será canonizado no próximo dia 7 de setembro, exerce sobre os adolescentes e jovens. E assim, Piergiorgio Frassatti, jovem que também será canonizado na mesma ocasião. E por que não lembrar de São Domingos Sávio, São Luiz Gonzaga e tantos outros. E ainda: Santa Teresinha do Menino Jesus, São Francisco de Assis e Santa Clara, São João Bosco e Madre Teresa de Calcutá… E por que não falar de São José de Anchieta, Santa Paulina e Frei Galvão, que viveram em São Paulo? Há muito testemunho de vida cristã e santidade em nossa Igreja, que pode ajudar os jovens a perceberem que a Igreja Católica, também hoje, tem muito de belo e profundo a lhes oferecer.

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