470º aniversário de São Paulo

Governo do Estado de São Paulo

A capital São Paulo, nossa querida “pauliceia desvairada”, como dizia o poeta Mário de Andrade, completou 470 anos em 25 de janeiro de 2024. Com cerca de 12 milhões de habitantes, é a maior cidade da América do Sul e, claro, do País. Grande metrópole, um verdadeiro deserto moderno, em que multidão rima com solidão, mas também com mutirão. Pois o deserto pode se tornar fecundo em suas possibilidades inesperadas.

Nesse gigantesco deserto humano, quanta gente permanece só e abandonada, oculta em meio às multidões sempre apressadas?! Quantas pessoas e famílias sem teto, do lado de fora dessa imensidão de prédios, casas e apartamentos?! Quantos gemidos e gritos abafados, silenciosos ou silenciados, pelos ruídos de uma cidade tão veloz quanto rumorosa?! Quantas histórias e rostos anônimos circulam por suas ruas, praças e avenidas?! Quantas digitais humanas nessa desmesurada selva de pedra e asfalto, cimento, vidro e ferro?!

São perguntas que interpelam todo cidadão que habita esta cidade. Mas há outras questões que revelam as pluralidades e potencialidades de tão extensa, tão distinta e tão rica mancha urbana. Quanta variedade de povos, nações, línguas, costumes, expressões culturais e religiosas?! Quantos contatos com os mil rostos do outro, no seio dela, podem ocorrer diariamente?! Quanta vitalidade, alegria e festa comporta a convivência de tantas experiências de vida e de tantas visões de mundo?! Apesar dos desencontros do dia a dia, quantos reencontros e quantos laços e relações se tecem nos inúmeros espaços da cidade?!

Assim é nossa grandiosa metrópole: como as demais, buliçosa, cosmopolita, cheia de contrastes e contradições e, ao mesmo tempo, repleta de vigor e de oportunidades múltiplas. Isso porque no seu interior “há um povo numeroso que me pertence”, diz o livro dos Atos dos Apóstolos (At 18, 1-17). E o salmo, por sua vez, assegura que “Deus habita esta cidade (Sl 47,9). Numa palavra, suas digitais divinas marcam nossa história pessoal, familiar, comunitária, sociopolítica e de toda a humanidade. Como na feliz expressão bíblica da Jerusalém Celeste, a graça do Deus reveste a obra humana, potencializando-a com seu amor e misericórdia.

Tanta dor e sofrimento, ao lado de tanta riqueza, opulência e desperdício; tanta desigualdade e injustiça clamam aos céus. Ao ouvir o clamor dos pobres, excluídos e mais vulneráveis, o Senhor move a solicitude pastoral da Igreja para socorrê-los. Disso decorre a multiplicação das pastorais e movimentos sociais, dos gestos de acolhida e das mãos estendidas em solidariedade aos que mais sofrem e necessitam de um olhar de pastor.

Para expressar com as palavras do Papa Francisco, trata-se de um testemunho da “Igreja em saída”. Neste aniversário de São Paulo, a festa e a luta, a gratidão e a celebração, a graça e o empenho conjunto se fundem e caminham de braços dados para tornar esta cidade cada vez mais amiga e irmã, pronta a acolher todos aqueles que chegam e a escolhem como casa e pátria.

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