A busca por Deus no deslumbrante universo da ficção científica

Para os estudantes, julho é um mês de férias, no qual mesmo os que trabalham têm um pouco mais de tempo livre. Pensando nisso e na tendência de usarmos essas horas de descanso diante das telas, este Caderno Fé e Cultura se debruça sobre o cinema de ficção científica. Trata-se de um gênero cinematográfico que frequentemente nos revela um pouco da nossa própria religiosidade – bem como os perigos da ideologização pelo entretenimento ou de uma religiosidade mal orientada. Trazemos uma rápida apresentação de nove filmes clássicos de ficção científica, que podem nos ajudar a perceber melhor tanto os aspectos positivos quanto os negativos deste gênero… E ajudar a aproveitar melhor nosso tempo de descanso…

Arte: Sergio Ricciuto Conte

A imensidão e a beleza do universo sempre atraíram os seres humanos, gerando “temor e tremor”, encanto e deslumbramento. Igualmente, os êxitos e realizações da ciência e da técnica têm despertado um sentimento ambíguo: fascínio pelo que podem fazer, medo pelas consequências de seu poder e de seu uso irresponsável. São todos sentimentos que nos conectam à divindade. O diálogo da criatura com seu Criador é sempre mediado pela percepção de Sua beleza e poder, da consciência de que Ele nos atrai inexoravelmente – mesmo quando queremos negá-Lo. Como diz o Salmo 139, 7-8: “Para onde irei longe do teu Espírito, para onde fugirei da tua face? Se subo ao céu, lá estás; se desço ao abismo, eis que ali estás também”.

Não é de se admirar, portanto, que a ficção científica, que trabalha permanentemente com as maravilhas tanto do espaço quanto da técnica, respire, de uma forma ou de outra, o sopro do divino. Não se trata de reflexões e posicionamentos confessionais. Pelo contrário, é muito frequente que essa literatura seja usada para desacreditar os valores da fé e questionar as religiões instituídas. Mas, numa ironia de Deus, mesmo a negação da fé se torna, com frequência, o testemunho de que para Ele fomos feitos e só Nele nosso coração encontra seu repouso… Tudo é caminho rumo a Ele ou um vagar desnorteado em busca justamente desse caminho.

Assim, os filmes de ficção científica, que muitas vezes se tornam grandes sucessos mundiais, nos fornecem ocasiões privilegiadas para nos darmos conta do senso religioso, do desejo profundo de Deus que habita o nosso coração e o coração de todos os demais seres humanos. Para isso, contudo, precisamos estar atentos àqueles sinais de encantamento diante do Mistério e de pedido inconfessado pela Graça que pululam nesses filmes. Além disso, é necessário reconhecer que muitas vezes esses sinais vêm embalados em ideologias antirreligiosas ou num animismo religioso New Age, exigindo um adequado discernimento de quem assiste a esses filmes.

São comuns, na ficção científica, as referências a uma inteligência superior, que se comunica conosco e que de alguma forma nos aguarda para um encontro e, talvez, até mesmo uma experiência de comunhão (ver, por exemplo, neste Caderno, as apresentações dos filmes 2001: uma odisseia no espaço e Contato); bem como os heróis messiânicos, dispostos a grandes sacrifícios pelo bem da humanidade (como o Neo, de Matrix, ou o Paul Atreides, de Duna); e ainda os grandes mestres iluminados que nos mostram nossa verdadeira “força” (como os jedi, de Guerra nas estrelas). São todas imagens que remetem a um universo religioso – e frequentemente cristão. O sucesso desses filmes se deve em grande parte ao fato de nos apresentarem, de forma ficcional, como entretenimento, profundas aspirações humanas – as mesmas que nos fizeram seguir a Cristo na Igreja.

Seria, obviamente, uma ingenuidade esperar que esses filmes nos deem respostas sérias a nossos dramas humanos ou um alinhamento catequético entre eles e a doutrina católica. Contudo, eles podem nos ajudar a perceber cada vez mais como o desejo de Deus continua, e sempre continuará, vivo no coração de todos os seres humanos.

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