A Doutora da síntese

No final da exortação apostólica C’est la confiance (cf. CC 48-53), o Papa Francisco nos apresenta o núcleo da mensagem e do testemunho de Santa Teresinha para a Igreja de hoje e para cada um de nós.

Reprodução/Comunidade Católica Shalom

O centro da moral cristã é a caridade, que é a resposta ao amor incondicional da Trindade, de modo que “as obras de amor ao próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do Espírito” (Evangelii gaudium, EG 37). Em última análise, conta só o amor.

Precisamente, a contribuição específica que Teresinha nos oferece como Santa e como Doutora da Igreja não é analítico, como poderia ser, por exemplo, o de São Tomás de Aquino. A sua contribuição é sobretudo sintética, porque a sua genialidade consiste em levar-nos ao centro, àquilo que é essencial, àquilo que é indispensável. Com as suas palavras e com o seu percurso pessoal, mostra que – embora todos os ensinamentos e normas da Igreja tenham a sua importância, o seu valor, a sua luz – alguns são mais urgentes e mais constitutivos para a vida cristã. Foi nestes que Teresa fixou o olhar e o coração.

Como teólogos, moralistas, estudiosos de espiritualidade, como pastores e como crentes, cada qual no respetivo âmbito, temos ainda necessidade de acolher esta intuição genial de Teresinha e tirar as devidas consequências teóricas e práticas, doutrinais e pastorais, pessoais e comunitárias. São necessárias audácia e liberdade interior para o poder fazer […]

Num tempo que nos convida a fechar-nos nos próprios interesses, Teresinha mostra a beleza de fazer da vida um dom. Num período em que prevalecem as necessidades mais superficiais, ela é testemunha da radicalidade evangélica. Numa época de individualismo, ela faz-nos descobrir o valor do amor que se torna intercessão. Num momento em que o ser humano vive obcecado pela grandeza e por novas formas de poder, ela aponta a via da pequenez. Num tempo em que se descartam tantos seres humanos, ela ensina-nos a beleza do cuidado, do ocupar-se do outro. Num momento de complexidade, ela pode ajudar-nos a redescobrir a simplicidade, o primado absoluto do amor, da confiança e do abandono, superando uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho. Num tempo de entrincheiramento e reclusão, Teresinha convida-nos à saída missionária, conquistados pela atração de Jesus Cristo e do Evangelho. Século e meio depois do seu nascimento, Teresa está mais viva do que nunca no meio da Igreja em caminho, no coração do povo de Deus. Está a peregrinar conosco, fazendo o bem sobre a terra, como tanto desejou. O sinal mais belo da sua vitalidade espiritual são as inúmeras ‘rosas’ que vai espalhando, isto é, as graças que Deus nos con- cede pela sua intercessão cheia de amor, para nos sustentar no percurso da vida:

Amada Santa Teresinha,
A Igreja precisa de fazer resplandecer
A cor, o perfume, a alegria do Evangelho.

Enviai-nos as vossas rosas!
Ajudai-nos a ter sempre confiança,
Como fizestes vós,
No grande amor que Deus tem por nós,
Para podermos imitar cada dia
A vossa ‘pequena via’ de santidade.

Amém.

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