A esperança que é mais encontro realizado que coisa prometida

Neste Jubileu de 2025, O Papa Franciso, nos convida a mergulhar na experiência cristã da esperança. Sabe o quanto a verdadeira esperança é necessária em nossos tempos. Mas, para nós cristãos, o que é a esperança verdadeira e como se distingue daquelas que causam tantas desilusões e sofrimentos?

Diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC): “A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo” (CIC 1817). Porém, se fosse algo só da vida eterna, seria difícil contestar a famosa crítica marxista de que a religião é o “ópio do povo”, uma promessa que não se realiza jamais nessa vida, usada para evitar que nos rebelemos contra as injustiças.

Bento XVI, ciente desse perigo, insiste que a fé, fonte da esperança, “não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão de vir, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada” (Spe salvi, SS 7). Explica que “chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança”, porém, “a nós, que desde sempre convivemos com o conceito cristão de Deus e a ele nos habituamos, a posse duma tal esperança que provém do encontro real com este Deus quase nos passa despercebida” (SS 3).

Como explicar, então, essa esperança que é encontro realizado e não tanto coisa prometida? Comentando um trecho de Ítalo Calvino, o padre italiano Luigi Giussani diz: “Quem e o que, no meio do inferno, não é inferno? O Destino! O nosso Destino tornou-se Presença. Mas Presença como pai, mãe, irmão, amigo, como – enquanto caminhávamos – um inesperado companheiro de caminho. Um companheiro de caminho: Emanuel, o Deus conosco! Isto aconteceu!” (COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO. Cartaz para o Natal de 2024). Essas palavras, em sintonia com o trecho de Bento XVI, nos ajudam a entender a esperança cristã…

Nossa esperança não é aquela de que o inferno desaparecerá, isso é, de que as coisas más não acontecerão. Elas estão aqui, nos cercam, acontecem com bons e com maus. É, inclusive, necessidade e dever moral lutar contra elas, mas isso não garante que as coisas irão terminar como queremos. Nossa esperança é que passaremos pelas dificuldades em companhia de Cristo. Mas qual o sentido disso?

Quando nos casamos, não temos a ilusão de que não teremos mais problemas na vida. Porém, acreditamos que todos os problemas serão vividos com um gosto novo, com um prazer diferente, que nossos corações experimentarão uma alegria e uma paz que não vem do fim dos problemas, mas de termos encontrado quem nos corresponde na vida.

E como sabemos que aquela pessoa é quem realmente nos corresponde? Se tentarem responder a essa pergunta, os velhos amantes dificilmente encontrarão uma resposta lógica e convincente. Vêm à lembrança tantos sinais, tantas ocasiões, umas felizes, outras tristes, algumas vitoriosas, outras de grandes derrotas! O amor é um grande mistério, que supera as capacidades da razão. O mais razoável não é tentar dissecá-lo logicamente, mas, no máximo, descrevê-lo por meio de uma história.

A esperança cristã é uma experiência similar, guardadas as devidas diferenças. Ela se fortalece na memória das ocasiões em que vimos Deus misteriosamente presente em nossa vida. Não é uma confiança cega em algo que vai acontecer, mas a certeza que vai se consolidando por meio de uma infinidade de pequenos indícios que vão se avolumando ao longo de uma vida. 

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