A geração conectada que precisa se desconectar

A internet e os telefones celulares realizaram uma verdadeira revolução em nosso modo de viver – e as novas gerações estão sendo as mais impactadas. Hoje, crianças e adolescentes podem relacionar-se com o mundo quase que exclusivamente por meio das telas, conectados a um mundo virtual que emula, mas distorce aquele real, cada vez mais conectados com os demais, mas nem por isso mais próximos…

Kampos Production/Pexels

O ano era 2007 e Steve Jobs anunciava, diante de uma plateia comovida, o “revolucionário telefone celular.” O primeiro smartphone do mundo foi lançado pela IBM em 1992, que anos mais tarde sofreu modificações para dar espaço a aparelhos como Motorola Q, BlackBerry, PalmTreo e, finalmente, o Iphone. A grande revolução à qual Jobs se referia era ter a comunicação e o acesso a dados na palma da mão – tudo em um só lugar.

Esse lançamento só foi possível, porém, devido ao surgimento da internet nas décadas anteriores. A Arpanet foi uma rede de troca de informações que havia sido desenvolvida para conectar instalações de pesquisas e militares com o Pentágono, nos Estados Unidos, na década de 1960. O início da internet, então, se estendeu para fins privados e alcançou o Brasil no final da década de 1980. Hoje, além da popularização dos smartphones, vemos que é o principal meio de comunicação utilizado no país. Segundo pesquisa TIC Domicílios 2023, realizada pelo Cetic.br, 84% da população brasileira com 10 anos de idade ou mais se conectou à internet, o que representa 156 milhões de pessoas. O alto índice de conexão é explicado pelo fato de a internet ser, hoje, o principal meio de comunicação utilizado no planeta, pelo qual é possível comprar produtos, acessar redes sociais, transferir dinheiro, dentre outras atividades.

A vida ficou mais fácil, porque passou a ser administrada na palma da mão. Mas como todo meio, o uso da internet pode ser levado para bem e para mal. O outro lado da acessibilidade foi o surgimento de riscos on-line, gestão da privacidade e efeitos na saúde mental e física pelo uso excessivo de telas, principalmente dentro das famílias. Crianças em idades cada vez mais precoces têm acesso a telefones celulares, computadores e outros dispositivos presentes em casa, nas creches ou mesmo em lugares públicos, o que substitui o brincar ativamente.

Uma criança conectada não é (necessariamente) uma criança mais inteligente e feliz. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, o uso de telas, se não for bem gerido, causa problemas para dormir, com aumento de pesadelos e terrores noturnos. Ao acordar, há aumento da sonolência diurna, problemas de memória e concentração durante o aprendizado, com diminuição do rendimento escolar, associação com sintomas dos transtornos do déficit de atenção e hiperatividade. As alterações de comportamento e de saúde estão frequentemente vinculadas entre si, mas envolvem diferentes causas, como o contexto cultural, a dinâmica familiar e a dependência recíproca no relacionamento pais-filhos, seus valores e regras do convívio familiar, além do tempo e uso diário.

Cabe, portanto, à família e aos cuidadores próximos à geração conectada saber quando (e como) vale a pena desconectar. Como indica a Constituição Brasileira, é também um dever da família, em primeiro lugar, assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, “o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” (art. 227). Desse modo, encontrar estratégias de uso da internet por parte dos pais e responsáveis em relação aos seus filhos se torna também um dever. É certo que os sistemas de comunicação seguirão evoluindo e as pessoas continuarão precisando e usufruindo da internet. Saber quando ficar off-line, porém, passará a ser a competência necessária dos milhares de lares brasileiros que desejam ver as futuras gerações se desenvolverem em plenitude.

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