Nem sempre é ótima a relação entre pais e escola. Isso se dá, também, porque estamos acostumamos a procurar as autoridades escolares somente quando temos problemas e, raramente, as buscamos para comentar algo que nos deixou satisfeitos. Assim, é comum que a relação pais/escola se realize por meio de reuniões com o objetivo de gerenciar conflitos. E esses conflitos, o sabemos bem, muitas vezes não são solucionáveis; eles possuem a limitação do tempo da educação que constrói a maturidade de modo mais lento do que desejaríamos. Há, também, as limitações de eventos difíceis que ora estão acontecendo na família, ora entre os amigos da escola… São muitos os limites que se reúnem nas salas de atendimento! As dificuldades cognitivas, a falta de didática de algum professor, a impaciência dos pais já atrasados para o trabalho… De tudo isso, o que nos cabe é sempre a nossa parte, ou seja, quando me deparo com aqueles pais ou aqueles professores, quem eu entendo que estou encontrando?
Escreveu São Bento, há mais de 1.500 anos: “Todos os hóspedes que chegarem ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo, pois Ele próprio irá dizer: ‘Fui hóspede e me recebestes’. E se dispense a todos a devida honra, principalmente aos irmãos na fé e aos peregrinos. Logo que um hóspede for anunciado, corra-lhe ao encontro o superior ou os irmãos, com toda a solicitude da caridade; primeiro, rezem em comum e, assim, se associem na paz. Não seja oferecido esse ósculo da paz sem que, antes, tenha havido a oração, por causa das ilusões diabólicas” (A Regra de São Bento, Rio de Janeiro: Lumen Christi, 2003. Capítulo 53).
O Santo deixa muito claro: “Todos os hóspedes que chegarem ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo, pois Ele próprio irá dizer: ‘Fui hóspede e me recebestes’.” Essa afirmação altera por completo a maneira de atender aquele pai mais difícil e aquele mais fácil também! E coloca o Cristianismo no chão de fábrica, encarnado, no cotidiano prosaico e sagrado para nós. Atender o outro sem essa dimensão desencarna o Cristianismo, o retira da realidade e, pior, torna o jugo e o fardo pesados como são sem a sua Presença. Ao contrário, a experiência religiosa nos permite encontrar o outro na sua e na nossa dificuldade. Como escreve Adélia Prado: “Os mosquitos como pessoas da casa admitidos. A poeira também” (“Uma forma para mim” [in] Bagagem. São Paulo: Record, 2003).
Tudo cabe, sem que eu queira eliminar nada da realidade. Porque sem Ele até a relação fácil se torna cansaço muito rapidamente.
O encontro com os pais de uma escola não é pontual. É um caminho. Como todo caminho educativo na escola, na família ou na Igreja, é lugar de conselhos, correções, punições, celebrações, desafios, incentivos… É uma companhia que nos guia para nossa vocação. É a oportunidade de os pais encontrarem-se com cristãos e se surpreenderem com a beleza e os limites daqueles que estabelecem uma amizade com eles.
A maravilha do Cristianismo é que tudo é oportunidade da única coisa que interessa: que reconheçamos a Cristo ali, naquele lugar, naquelas circunstâncias. Na minha experiência, isso só não foi possível quando não supliquei que acontecesse, esquecendo de desejar o infinito naquele cotidiano, aparentemente secundário, em que a minha alma deseja reencontrá-Lo e respirar novamente. Tudo ali, disponível para mim, para um novo encontro que não é somente algo a ser administrado, mas que coincide com o caminho da minha vocação para aquele dia.
* Texto baseado em palestra proferida no I Seminário Escola & Família, promovido pela Pastoral da Educação e Ensino Religioso do Regional Sul 1 da CNBB, em parceria com o Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade da Arquidiocese de São Paulo (Santuário Nacional de Aparecida, 19/ago/2023)