A reparação desejada por Cristo

Em resposta ao amor de Cristo, que se ofereceu por nós, nos dedicamos ao bem de nossos irmãos, tanto em sua dimensão social quanto espiritual.

Sagrado Coração de Jesus, de Pompeo Batoni (detalhe). Foto de Lloydbaltazar. Fonte Wikimedia Commons

A doutrina da reparação está intimamente ligada à devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Exposta na encíclica Miserentissimus Redemptor (MR 5-13), de Pio XI, propõe uma série de práticas que visam reparar as ofensas feitas a Deus, enfatizando o amor e a misericórdia que emanam do Coração de Cristo.

Tomando por base a espiritualidade de Santa Teresa do Menino Jesus, o Papa Francisco explica que a base dessa reparação não se baseia numa justiça retributiva, na qual o ser humano busca “pagar a Cristo” pelas ofensas feitas a Ele em função de nossos pecados. Trata-se antes, de uma resposta de gratidão apaixonada por Seu amor misericordioso (cf. Dilexit nos, DN 195-198). Com essa postura, nos afastamos de interpretações moralistas e posturas farisaicas na reparação ao Sagrado Coração de Jesus.

Francisco irá apresentar, ainda, o sentido social dessa reparação, pois “unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo […] é a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador”, como escreveu São João Paulo II numa Carta ao Prepósito-Geral da Companhia de Jesus, em 1986. “No meio do desastre deixado pelo mal – segue Francisco – o Coração de Cristo quis precisar da nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza” (DN 182).

“Precisamente porque a reparação evangélica tem este forte significado social – continua o Papa – os nossos atos de amor, de serviço e de reconciliação, para serem reparações eficazes, requerem que Cristo os impulsione, os motive e os torne possíveis. São João Paulo II dizia que, para construir a civilização do amor, a humanidade de hoje precisa do Coração de Cristo. A reparação cristã não pode ser entendida apenas como um conjunto de obras exteriores, que são indispensáveis e por vezes admiráveis. Exige uma espiritualidade, uma alma, um sentido que lhe dê força, impulso e criatividade incansável. Precisa da vida, do fogo e da luz que vêm do Coração de Cristo” (DN 184).

Francisco insiste que a proposta cristã, para ser atraente, deve ser “vivida e manifestada em sua integralidade “ e, por isso, “não se trata sequer de uma promoção social desprovida de significado religioso, que no fundo seria querer para o ser humano menos do que aquilo que Deus lhe quer dar” (DN 205). Assim, o sentido social da reparação se integra com a dimensão missionária da Igreja, pois “por intermédio dos cristãos, o amor difundir-se-á no coração dos homens, para que se construa o Corpo de Cristo que é a Igreja e se edifique uma sociedade de justiça, de paz e de fraternidade” (DN 206).

Dirigindo-se a cada um de nós, o Papa nos convida a ter o mesmo desejo de Santa Teresa do Menino Jesus, que viveu o ardor missionário como “parte inseparável da sua oferta ao Amor misericordioso”. Ele nos diz: “Esta é também a tua missão. Cada um cumpre-a à sua maneira, e verás como podes ser missionário. Jesus merece-o. Se tiveres coragem, Ele te iluminará, acompanhará e fortalecerá, e viverás uma experiência preciosa que te fará muito bem. Não importa se conseguirá ver algum resultado; deixa isso para o Senhor que trabalha no segredo dos corações, mas não deixes de viver a alegria de tentar comunicar o amor de Cristo aos outros” (DN 216).

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