A Vida em si (Life itself)

Quem de nós não passou por acontecimentos dramáticos e marcantes ao longo da própria vida? Como eles nos ajudam, ou não, a entender nossa “vida em si”?

Reprodução da Internet

Trata-se de um drama, de 2018, dirigido por Dan Fogelman, muito mais conhecido pela série This is us (que já conta com seis temporadas). A trama se desenvolve ao longo de mais de 50 anos, com três famílias que vão entrando e saindo da narrativa, mas sempre entretecendo os fios que configuram o drama da vida em si. Tudo se passa entre Nova Iorque e Sevilha e, ainda, numa hacienda de oliveiras da Andaluzia. Talvez por isso Fogelman tenha querido contar com Antonio Banderas, falando um castelhano próximo do andaluz (não se pode esquecer que nasceu em Málaga) e com Oscar Isaac, que também tem raízes hispânicas. 

Também é uma marca registrada do diretor, que deixa a sua marca no filme, assim como faz na série This is us, as idas e vindas da própria narrativa ao longo do tempo. Os primeiros minutos são desconcertantes e é preciso um pouco de paciência para entender do que se trata. Não me parece que seja desacertado, até pelo contrário, parece-me que esse recurso do diretor (que aparece em outros momentos) é mais uma forma de insistir no próprio título do filme. 

É assim mesmo que é a vida. Life itself. Algo desconcertante, difícil de se encontrar um sentido e com frequência dura, muito dura. Contudo, como dirá Isabel para o seu filho, Rodri, é essa mesma vida que vai nos colocar de joelhos e vai querer que desistamos… Então, nessa hora, é para levantar-nos e dar mais um passo e acabaremos encontrando o amor.

Toda a história se desenvolve sobre a vida de um casal em Nova Iorque e outro em Sevilha e que acabarão se encontrando de forma trágica e, ao mesmo tempo, surpreendente (a tal da marca do diretor) numa rua da Big Apple, quando um moleque espanhol, Rodrigo, distrai um motorista de ônibus, e acontece um acidente com consequências graves. E bem mais tarde, quando esse mesmo Rodrigo está desfrutando de uma bolsa em Nova Iorque, sai para correr e se encontra no mesmo local com a filha do casal envolvido no acidente.

Talvez a chave do filme esteja, como muitos sites de críticas têm levantado, numa certa manipulação das emoções e dos sentimentos dos espectadores, coisa que Dan Fogelman sabe fazer à perfeição. Mas me parece que vale a pena considerar a tese de Abby, a mãe que se envolve no acidente de ônibus. Ela está concluindo o seu doutorado em Letras e descobre que não há mesmo nenhum narrador confiável para explicar ou explicar-nos a vida em si, tal como ela, a vida, transcorre e se passa. Nem nós, cada um de nós, nem ninguém tem crédito suficiente para ser um narrador imparcial da própria vida.

E então? Como daria para entendermos o que é a vida? Essa é a questão que Abby se coloca na sua tese. Como ela mesmo responde, o único narrador confiável seria a vida mesma (Life itself) mas nem isso é possível porque a vida nos depara sustos e imprevistos muito difíceis de entender e suportar.

E então? Nos perguntamos nós: o que é mesmo que é a vida? Em que consistiria uma vida feliz? Para respondermos cada um e cada uma à sua maneira, talvez o melhor seja assistir ao filme e ter paciência porque se trata de muitos anos e várias gerações. Afinal, é assim mesmo que a vida é.

A VIDA EM SI (Life itself)

Direção e roteiro: Dan Fogelman
Elenco: Oscar Isaac, Olivia Wilde, Mandy Patinkin, Olivia Cooke
Nacionalidade: Estados Unidos (2018)
Duração: 117 minutos
Disponível em várias plataformas de streaming

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