Um filme romântico, narrando a conturbada trajetória de um homem bom.
Em setembro do ano passado, estreou na Netflix o filme que conta a história de Rafal Wilczur, um excelente e respeitado cirurgião, que, no momento talvez mais culminante da sua trajetória profissional, vê-se confrontado, tal como Jó no Antigo Testamento, com um destino duro e cruel, perdendo quase tudo o que tinha conseguido na sua vida até aquele momento.
Para aqueles que gostam de saber se o filme retrata uma história real ou não, a resposta é não. Não retrata. O filme é mesmo um filme, ou seja, uma história de ficção, muito bem construída e que, em alguns momentos, parece como se o roteiro tivesse sido escrito (embora isto aqui também é uma ficção) por Charles Dickens. É uma história de abandonos, de invejas até desejar a morte, de rigorismos legais até os limites do absurdo e, ao mesmo tempo, uma bondade desconcertante e iluminadora, que deixa transparecer uma réstia de esperança nos seres humanos.
No auge da sua carreira, e no mesmo dia em que foi nomeado como cirurgião-chefe, repentinamente e nesse mesmo dia, Rafal vê-se surpreendido pelo abandono da sua esposa, que leva também embora a sua filha pequena, para formar uma outra família com outro homem. No desespero, Rafal liga para o seu melhor amigo e colega, procurando ajuda e o que acaba encontrando é todo o peso de um destino fatal.
Muitos anos depois, encontramo-nos com a mesma pessoa que, em lugar de morrer, sobreviveu, porém, perdeu a memória, esqueceu completamente de quem era, de como sobreviveu e de qual foi a sua história. O único que conserva dentro de si é a sua habilidade médica e cirúrgica e o seu bom coração.
O filme está baseado em um romance do escritor polonês Tadeusz Dolega-Mostowicz, com o nome de “Znachor”, que vem a significar mais ou menos “curandeiro”, que era o que diziam dele todos os que eram curados pelas suas mãos nos diferentes vilarejos por onde ele passava. Não podia exercer a profissão de médico, porque nem sequer lembrava quem era, e para tanto precisava de um título, mas naqueles lugares remotos, todos recorriam a ele que, sem saber bem como nem porque, conseguia curar a todos e todas.
O filme tem todos os elementos para ser chamado, sem exagero, um filme romântico. Há dor, há pena, há invejas, há maldades, mas há também, ternura, muita bondade, muitíssima doação e generosidade e, é claro, há uma reviravolta atrás de outra. Contar quaisquer uma dessas histórias estragaria o prazer e a alegria de assistir ao filme. Vale muito a pena.
AMOR ESQUECIDO (Znachor)
Direção: Michal Gazda
Roteiro: Marcin Baczynski, Mariusz Kuczewski, Tadeusz Dolega-Mostowicz
Elenco: Leszek Lichota, Maria Kowalska, Ignacy Liss
Nacionalidade: Polônia (2023)
Duração: 2h20min
Disponível: Netflix
