‘As nadadoras’: um filme sobre uma história épica

Se não soubéssemos que estaríamos assistindo a um filme baseado em fatos reais, aliás, extrema e tristemente reais, provavelmente não acreditaríamos que tudo aquilo fosse verdade. A história de Yusra e Sarah Mardini procura dar voz não a algo que aconteceu com elas nas suas vidas, mas a algo que acontece com milhões e milhões de pessoas em todas as partes do mundo, e que quase que cotidianamente acompanhamos por meio de notícias de tristes naufrágios acontecidos no Mediterrâneo.

Duas irmãs, que eram esperanças de medalhas olímpicas em natação pela Síria, foram surpreendidas durante os treinos por um ataque com bombas e acabaram decidindo fugir da Síria, tentando chegar até a Alemanha e, uma vez estabelecidas lá, fazer com que os pais e a irmã mais nova se reunissem com elas, para, depois de retomarem os treinos, poder participar da Olimpíada do Rio em 2016. Parece loucura, não é? Mas foi exatamente isso que acabou acontecendo. Como disse, é uma história inacreditável e, contudo, verdadeira.

A diretora, Sally El Hosaini, quis tornar visíveis não apenas duas irmãs sírias que atravessaram o Mediterrâneo, na altura da Turquia e da Grécia, numa embarcação precária, junto com mais 18 pessoas, e depois tiveram de enfrentar uma verdadeira odisseia atravessando a Macedônia, a Sérvia, a Hungria e a Áustria até conseguir finalmente chegar à Alemanha, mas “todos aqueles refugiados em todo o mundo e falar por todos aqueles que não têm voz”, como disse Yusra Mardini numa entrevista sobre o filme.

Há cenas, mais de uma ou duas, de cortar o coração. Outras que deixam uma mistura de emoções contrastantes entre a revolta e a esperança em relação aos seres humanos.

É difícil de acreditar que, depois de terem sobrevivido a um naufrágio certo, porque o motor falhou e começaram a afundar, e depois de terem ficado nadando as duas juntas puxando aquele bote que teimava em afundar com mais 16 pessoas, durante três horas e meia à noite no Mediterrâneo, ao chegarem finalmente à ilha de Lesbos ninguém do local tivesse a disposição de ajudar ou mesmo de dar um pouco de água. É difícil de acreditar, mas é assim que se passou.

É angustiante assistir a cada negociação com os intermediários que irão tentar fazer que passem pelas fronteiras exigindo desapiedadamente dinheiro e mais dinheiro. E acompanhar a odisseia de ir de um lugar a outro sem saber ao certo em quem poderiam ou não confiar. E é uma lufada de ar e um canto de esperança perceber que houve pessoas que no meio daquele turbilhão souberam acolher, ajudar e facilitar as coisas para que, finalmente, pudessem chegar à Alemanha.

Yusra Mardini participou na Olimpíada do Rio 2016 com uma equipe que pela primeira vez foi formada para representar o enorme número de refugiados. Desde 2011, mais de 13,5 milhões de sírios foram afetados pela guerra. “As Olimpíadas mudaram a minha forma de pensar sobre o que era ser um refugiado. Quando eu entrei no estádio no Rio de Janeiro, percebi que posso inspirar muitas pessoas. Eu percebi que ‘refugiado’ é apenas uma palavra, e que o que você faz com ela é a coisa mais importante”, comentou a jovem nadadora numa entrevista posterior aos jogos olímpicos.

O filme é um longa-metragem britânico, coproduzido com a Síria, Turquia, Alemanha e Bélgica e é estrelado pelas irmãs na vida real, Nathalie Issa, como Yusra Mardini, e Manal Issa, como Sarah Mardini. O filme estreou no festival internacional de cinema de Toronto em 2022 e pode ser assistido pela Netflix.

As nadadoras (The Swimmers)
Direção: Sally El Hosaini
Roteiro: Sally El-Hosaini, Jack Thorne
Elenco: Nathalie Issa, Manal Issa
Nacionalidade (Ano): Inglaterra, Síria, Turquia, Alemanha e Bélgica (2022)
Disponível: Netflix

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