Como Edith Stein transformou minha visão de mundo

Edith Stein jovem

Há um corpo de verdades acessíveis à razão natural. Ela, porém, sozinha, já não basta para delimitar o seu próprio alcance, fazendo-se necessário o auxílio da razão sobrenatural. (…) uma compreensão racional do mundo, a saber, uma metafísica – e nisso reside, secreta ou abertamente, a intenção de toda filosofia – só pode ser adquirida pela ação conjunta da razão natural e sobrenatural (STEIN, Edith. “O que é filosofia? Uma conversa entre Edmund Husserl e Tomás de Aquino” [in] Textos sobre Husserl e Tomás. São Paulo: Paulus, 2019).

Pode-se compreender [uma visão de mundo] como uma imagem geral sobre tudo o que há, os ordenamentos e as conexões nas quais tudo se insere, sobretudo o posicionamento do ser humano no mundo, sua proveniência, seu destino (STEIN, E. “A fenomenologia e seu significado de visão de mundo” [in] Textos sobre Husserl e Tomás de Aquino. São Paulo: Paulus, 2019)

Nasci em 1963, em uma família tradicional católica, em Porto Alegre (RS) em pleno Concílio Vaticano II. Em minha terra, um estado de fronteira, terra de Rodrigo Cambará e Ana Terra, a mensagem do Concílio foi interpretada “a ferro e fogo”, se reduzindo a aspectos sociopolíticos que culminavam na luta armada. Isso me afastou da Igreja, com a idade de 21 anos. Como não conseguia pensar Deus sem Cristo, tampouco Cristo sem a Igreja, decidi tornar-me agnóstica: “Deus é apenas uma criação da sociedade”. Ingressei na faculdade de Filosofia da UFRGS e fui buscar no estudo da natureza humana e da política respostas para as minhas inquietações.

Como não podia ser diferente, depois de seis anos, em um doutoramento em curso em Paris I, Sorbonne, percebi que a única possibilidade de se pensar o ser humano como essencialmente diferente dos outros seres vivos – como um ser livre –, era pressupor um princípio transcendente, fora dele: Deus. Problemas pessoais não me permitiram finalizar o doutorado. Traduzi a tese e tentei defendê-la aqui no Brasil, mas também não deu certo. Depois de algumas tentativas frustradas, decidi deixar de investir na carreira filosófica…

Deus estava me guiando pela mão, mas eu não via isso e sofria muito.

Abriu-se uma outra porta, por onde pude canalizar a minha sede de respostas a perguntas essenciais: De onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? Fiz um curso de espiritualidade carmelitana, por três anos, coordenado pelo Frei Patrício Sciadini. Ao conhecer os santos do Carmelo – João da Cruz, Teresa de Jesus, Terezinha, Edith Stein – cheguei à conclusão que a Filosofia tinha sido, em minha vida, apenas “vaidade das vaidades”.

Contudo, sentia-me cindida, dividida entre o que tinha estudado com tanto afinco por meio da razão e o que tinha recebido, gratuitamente, pela fé. Foi aí que conheci Edith Stein como filósofa. Foi no Congresso do Carmelo Descalço Secular, em São Roque (SP), em novembro de 2002, na conferência da Irmã Jacinta Turolo Garcia, doutora em Stein. Naquele momento eu escolhi Edith como minha “mestra para a vida”, pois via nela a união daquilo que era precioso para mim: a fé e a razão, ambas dons de Deus. Tudo que eu tinha aprendido pela Filosofia, mas deixado represado na intelectualidade da mente, conseguia agora descer ao coração, tornar-se vida e vivência. E foi assim que eu adquiri, ao longo destes 20 anos, uma nova visão de mundo, integrada e integradora, sem a necessidade de dar respostas definitivas e cabais para todas as coisas, sem medo de encontrar-se com o mistério, Jesus Cristo.

Santa Edith Stein, rogai por nós!

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