Como precisamos dos Santuários!

Papa Francisco explica a importância dos santuários para a piedade popular e para o caminho de conversão de cada um de nós (trechos do seu discurso aos reitores e colaboradores dos santuários, em 29 de novembro de 2018).

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Como precisamos dos Santuários, no caminho cotidiano que a Igreja percorre! Eles são o lugar onde o nosso povo se reúne com mais boa vontade para manifestar a própria fé na simplicidade e segundo as várias tradições, aprendidas desde a infância. Sob muitos aspetos, os nossos Santuários são insubstituíveis porque mantêm viva a piedade popular, enriquecendo-a com uma formação catequética que ampara e fortalece a fé, alimentando ao mesmo tempo o testemunho da caridade […]

Penso na importância do acolhimento que deve ser reservado aos peregrinos. Sabemos que, cada vez mais, os nossos Santuários são meta não de grupos organizados, mas de peregrinos individualmente ou de pequenos grupos autónomos, que se põem a caminho para chegar a esses lugares santos […] Em relação a cada um deles, devemos prestar a atenção para fazer com que se sinta “em casa”, como um familiar esperado há muito tempo e que finalmente chegou […] Quando são acolhidas, estas pessoas tornam-se mais disponíveis a abrir o seu coração e a deixar que a Graça o plasme. Um clima de amizade é uma semente fecunda, que os nossos Santuários podem lançar no terreno dos peregrinos, permitindo-lhes reencontrar aquela confiança na Igreja, que por vezes pode ter sido desiludida por uma indiferença recebida.

O Santuário é sobretudo um lugar de oração. A maioria dos nossos Santuários é dedicada à piedade mariana. Ali a Virgem Maria abre de par em par os braços do seu amor materno para ouvir a oração de cada um e para a atender. Os sentimentos que cada peregrino alberga no mais íntimo do coração são os mesmos que encontra também na Mãe de Deus. Ali Ela sorri, concedendo consolação. Ali verte lágrimas com quantos choram. Ali apresenta a cada um o Filho de Deus que abraça, como o bem mais precioso que cada mãe possui. Ali Maria torna-se companheira de caminho de cada pessoa que lhe eleva o olhar, pedindo uma graça, convicta de ser atendida. A Virgem responde a todos com a intensidade do seu olhar, que os artistas souberam pintar frequentemente orientados, por sua vez, do alto na contemplação.

A propósito da oração nos Santuários, gostaria de realçar duas exigências. Antes de tudo, favorecer a prece da Igreja que, mediante a celebração dos Sacramentos, torna a salvação presente e eficaz. Isto permite que quem estiver presente no Santuário, se sinta parte de uma comunidade maior que, de todas as regiões da terra, professa a única fé, dá testemunho do mesmo amor e vive uma só esperança. Muitos Santuários nasceram exatamente do pedido de oração que a Virgem Maria dirigiu ao vidente, a fim de que a Igreja nunca se esqueça das palavras do Senhor Jesus, de rezar ininterruptamente (cf. Lc 18, 1) e de permanecer sempre vigilante, na expetativa do seu retorno (cf. Mc 14, 28).

Além disso, os Santuários são chamados a alimentar a prece de cada peregrino, no silêncio do seu coração. Com as palavras do coração, mediante o silêncio, com as suas fórmulas aprendidas de cor na infância, com os seus gestos de piedade… cada um deve poder ser ajudado a expressar a sua oração pessoal. Muitas pessoas vão ao Santuário, porque têm necessidade de receber uma graça, e depois voltam para agradecer por a terem obtida, muitas vezes por terem recebido força e paz na provação. Esta prece faz dos santuários lugares fecundos, para que a piedade popular seja sempre alimentada e cresça na consciência do amor de Deus.

Nos nossos Santuários ninguém deveria sentir-se um estranho, principalmente quando a eles chega com o peso do próprio pecado. O Santuário é um lugar privilegiado onde experimentar a misericórdia que não conhece confins. Este é um dos motivos que me impeliu a querer a “Porta da misericórdia” inclusive nos Santuários, durante o Jubileu Extraordinário. Com efeito, quando é vivida, a misericórdia torna-se uma forma de evangelização real, porque transforma quantos recebem a misericórdia, em testemunhas de misericórdia.

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