…E descobrimo-nos muito amados…

Papa Francisco nos conduz, nos trechos a seguir da Dilexit nos da alegria de compreender-se amado de forma grandiosa e imerecida ao empenho com a construção de uma humanidade renovada.

Dilexit nos (DN 1-6, 48-51, 218-219)

“Amou-nos”, diz São Paulo referindo-se a Cristo (Rm 8, 37), para nos ajudar a descobrir que nada “será capaz de separar-nos” desse amor (Rm 8, 39). Paulo afirmava-o com firme certeza, porque o próprio Cristo tinha garantido aos seus discípulos: “Eu vos amei” (Jo 15, 9.12). Disse também: “Chamei-vos amigos” (Jo 15, 15). O seu coração aberto precede-nos e espera-nos incondicionalmente, sem exigir qualquer pré-requisito para nos amar e oferecer a sua amizade: Ele amou-nos primeiro (cf. 1 Jo 4, 10). Graças a Jesus, “conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele” (1 Jo 4, 16).

Para exprimir o amor de Jesus Cristo, recorre-se frequentemente ao símbolo do coração […] No grego clássico profano, o termo kardía designa a parte mais íntima dos seres humanos, dos animais e das plantas […] Desde a antiguidade, advertimos a importância de considerar o ser humano não como uma soma de diferentes capacidades, mas como um complexo anímico-corpóreo com um centro unificador que dá a tudo o que a pessoa experimenta um substrato de sentido e orientação […]

Frequentemente, esta verdade íntima de cada pessoa está escondida debaixo de muita superficialidade, o que torna difícil o autoconhecimento e ainda mais difícil conhecer o outro […] A mera aparência, a dissimulação e o engano danificam e pervertem o coração. Para além das muitas tentativas de mostrar ou exprimir o que não somos, é no coração que se decide tudo: ali não conta o que mostramos exteriormente ou o que ocultamos, ali conta o que somos […]

Hoje, tudo se compra e se paga, e parece que o próprio sentido da dignidade depende das coisas que se podem obter com o poder do dinheiro. Somos instigados a acumular, a consumir e a distrairmo-nos, aprisionados por um sistema degradante que não nos permite olhar para além das nossas necessidades imediatas e mesquinhas. O amor de Cristo está fora desta engrenagem perversa e só Ele pode libertar-nos desta febre em que já não há lugar para o amor gratuito. Ele é capaz de dar coração a esta terra e reinventar o amor lá onde pensamos que a capacidade de amar esteja morta para sempre […] Da ferida do lado de Cristo continua a correr aquele rio que nunca se esgota, que não passa, que se oferece sempre de novo a quem quer amar. Só o seu amor tornará possível uma nova humanidade.

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