Qual é a grande enfermidade de nosso tempo e de nosso povo? Na grande maioria das pessoas é a desintegração interna, a falta total de convicções e princípios firmes, à deriva sem direção e, por causa da insatisfação com esse tipo de existência, a busca de entorpecimento em novos prazeres cada vez mais sofisticados […] O remédio contra a doença de nosso tempo são seres humanos plenos […] que fincados no chão da eternidade não se deixam abalar em suas convicções e em seu agir por opiniões, asneiras e vícios da moda que grassam à sua volta (STEIN, Edith. A mulher: sua missão segundo a natureza e a graça. Bauru: EDUSC,1999).
O princípio mais elementar do método fenomenológico: considerar as coisas por elas mesmas […] aproximar-se delas com um olhar privado de preconceitos e captá-las com uma visão imediata. Se queremos saber o que é o ser humano, devemos nos colocar no modo mais vivo possível, na situação na qual fazemos experiência do seu aqui, quer dizer, daquilo que experimentamos em nós mesmos e daquilo que experimentamos no encontro com os outros (STEIN, Edith. La estructura de la persona humana. Madri: Biblioteca de Autores Cristãos, 2002).
O verdadeiro educador é Deus, o único que conhece cada homem singular em profundidade, que tem diante dos olhos o fim de cada um e sabe de quais meios tem necessidade para conduzi-lo ao fim. Os educadores humanos são instrumentos nas mãos de Deus (STEIN, Edith. La estructura de la persona humana. Madri: Biblioteca de Autores Cristãos, 2002).
A questão educativa perpassou grande parte da vida e da obra de Edith Stein, embora seja um aspecto ainda pouco explorado e conhecido no conjunto de sua produção. Defendia uma reforma no sistema educacional alemão, que considerava em crise havia décadas, por estar fortemente marcado pelos ideais iluministas, que davam uma ênfase excessiva a um “saber enciclopédico”. Pressupunha-se que a alma não passava de uma tábula rasa em que deveria ser gravado o máximo, seja pela assimilação racional, seja pela memorização. Stein acreditava que mais valia educar a inteligência e a vontade para que as pessoas pudessem apropriar-se de qualquer matéria que viesse a ser importante para elas.
A autora ressalta a necessidade de que o conhecimento capte a individualidade das pessoas, pois não se deveria educar para a mesma finalidade, segundo um esquema geral, sem dar espaço para as especificidades. Compreendia, ainda, que o espírito humano está direcionado à criação, à compreensão e ao gozo da cultura. Ele não é capaz de desenvolver-se plenamente se não tiver contato com a diversidade dos campos da cultura, e o indivíduo não poderá alcançar a meta de sua vocação se não chegar a conhecer o campo que lhe é indicado por seu talento natural. Entendia formação como preparação do ser humano para ser aquilo que deve ser, em um processo que abrange o corpo, a alma (psique) o espírito com todas as suas forças.
Após sua conversão ao catolicismo, Edith Stein realiza uma síntese muito interessante entre a destinação natural e sobrenatural do ser humano, com repercussões muito concretas em seu modo de conceber a educação. Recoloca a dimensão religiosa no centro da questão, de uma forma elegante e inteligente. Em seus escritos, Pedagogia, Antropologia filosófica e teológica dialogam com fluidez e sem cisões, pois entendia que seria necessário formar a interioridade, visando ao desenvolvimento da individualidade, num processo que acontece de dentro para fora, como atualização das potencialidades já existentes na pessoa.
Deus é apresentado por Edith Stein como o educador por excelência, por ser o único a conhecer o ser humano em profundidade e a ter diante dos olhos o fim de cada um e os meios necessários para concretizá-lo. Os educadores humanos, se tiverem abertura e disponibilidade para prestar atenção em Seus sinais e segui-los, podem ser instrumentos eficazes nas mãos de Deus para ajudar outros a descobrirem o seu caminho, realizarem a sua obra.
Para Edith Stein, todo ser humano traz em si uma marca de eternidade e anseia por ela. Uma educação que vise apenas ao imediato, o terreno, o provisório, não corresponde ao desejo mais profundo dos seres humanos; não contribui para que cada um realize seu próprio caminho, sua própria via, contribuindo para o bem comum; ao contrário, busca uma padronização, ou uma competitividade, na qual os seres humanos não se reconhecem mais como irmãos, como vindo de uma raiz comum.