Escutemos a Bíblia

Muitas vezes, queremos ler e estudar a Bíblia como se fosse um livro de história ou um tratado de Filosofia. Estudar e entender a Bíblia é necessário e importante, mas – antes de tudo – é Deus que nos fala com amor. Um encontro pessoal, que se realiza por meio do texto

Museum of the Bible

Todos conhecemos a famosa afirmação de São Jerônimo: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo” (cf. Prólogo ao comentário do profeta Isaías). E sabemos disso pela nossa própria experiência de ter um coração ansioso por conhecer cada vez mais Cristo, com uma busca contínua por encontrá-Lo cada vez mais profundamente. Tentamos de várias maneiras conhecê-Lo, encontrá-Lo, conformar a nossa mentalidade à Dele. Buscamos a Deus por meio da oração, da liturgia, do serviço, do estudo, da contemplação da natureza e da beleza da criação. A Bíblia não é um manual para conhecer a Deus. Nela, é com Ele mesmo que nos familiarizamos e estabelecemos um relacionamento amoroso. Essa maravilhosa familiaridade só pode ser adquirida pela leitura da Bíblia.

Desejamos tanto isso, mas quando finalmente estamos prontos para tomar o Livro da Sua Palavra em nossas mãos, ficamos com medo: como posso enfrentá-Lo? Como posso me aproximar Dele presente nas Escrituras? Como faço para que realmente aconteça um encontro? Não devemos ter medo. O primeiro passo, único e necessário, é simplesmente pegar o Livro e ler. Ler, ler, ler…. Ao ler, ouvimos. Quando lemos, Deus, de fato, fala conosco e a nossa leitura se torna ao mesmo tempo escuta. Você só conhece um ente querido ouvindo-o, dando-lhe tempo para se expressar. A Bíblia é a história que Deus nos conta sobre Si mesmo, sobre seu amor por nós, por você que a lê.

Nos seus ensinamentos, os monges citam frequentemente uma máxima do Papa Gregório Magno: “A Palavra de Deus cresce junto com quem a lê” (Divina eloquia cum legentecrescunt). Quanto mais lemos e ouvimos, mais cresce nossa compreensão e familiaridade com o texto. Pessoas, acontecimentos, palavras, emoções, imagens que falam nos textos, iluminam o texto com outro texto. Você pode ler a Bíblia com a Bíblia. Na Bíblia de Jerusalém, ao lado do texto podemos encontrar algumas coleções de textos semelhantes que remetem o leitor a um estudo mais aprofundado. Com o tempo, ao se tornarem íntimos e familiarizados com o texto, todos podem preparar sua própria coleção de textos por conta própria.

Santo Agostinho afirmou que na Bíblia ou é Jesus quem fala ou é de Jesus que se fala ou é a Jesus que se fala. Orígenes, por outro lado, disse que as palavras escritas na Bíblia nada mais são do que as palavras de amor que o noivo Jesus troca com sua noiva, a Igreja. Se abordarmos a Escritura com esta consciência, não teremos dificuldade em ouvir a voz de Deus.

Primeiro, você deve compreender bem o texto: leia-o com atenção e, às vezes, se possível, em voz alta, contando-o para si mesmo. Não devemos ter medo de tratar a Bíblia de forma pessoal, destacando as coisas que são importantes para nós, fazendo anotações com os insights que recebemos ao ler o texto. O texto encontrado com amor atua em nós. Os Padres da Igreja tinham extrema confiança na Palavra. A própria Palavra tem o poder de crescer em nós, mesmo que não o percebamos. A Palavra produz frutos por si mesma. É o Senhor quem age em nós. O que podemos fazer é guardar e agir com amor, com discrição e em silêncio.

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