No encerramento do Jubileu da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco para 2025, o público brasileiro é presenteado com uma obra-prima sobre o tema. Trata-se de O Pórtico do Mistério da Segunda Virtude, escrito pelo poeta francês Charles Péguy, há pouco mais de um século, tornou-se um clássico obrigatório da espiritualidade cristã, mas permanece pouco conhecida e lida no Brasil. Agora, uma nova tradução da obra foi publicada pela Editora Companhia Ilimitada.

PÉGUY, Charles. O Pórtico do Mistério da Segunda Virtude. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2025 [O livro encontra-se em fase de lançamento e pode ser adquirido diretamente na Editora, pelo fone (11)99272-0305].
Não é fácil compreender a esperança cristã. Neste Jubileu da Esperança, o Papa Francisco nos ajudou a compreender que a esperança não pode ser entendida como se fosse apenas um vago otimismo com relação ao futuro. Uma abordagem tão superficial não se sustentaria diante das graves contradições com as quais somos constantemente defrontados. Afinal, como manter a esperança diante da pobreza, das guerras ou de tantos outros problemas que nos afligem e não parecem ter solução à vista? E ainda mais: é razoável depositar a esperança em nossos projetos, intenções ou capacidades pessoais, uma vez que somos tão fracos e incoerentes?
Um dos grandes méritos de O Pórtico do Mistério da Segunda Virtude, de Charles Péguy, é colocar claramente essas perguntas sem recorrer a soluções fáceis ou sentimentais. Longe de simplificar questão tão complexa, a obra apresenta uma longa reflexão, lírica e profunda, sobre o tema. É significativo que o livro tenha sido originalmente publicado em 1911, em um contexto histórico particularmente difícil: basta lembrar que a Primeira Guerra Mundial (conflito no qual o autor inclusive perderia a vida) começaria poucos anos depois. Não é por acaso, portanto, que Péguy inicia o poema declarando que a esperança é a mais difícil das virtudes teologais, sendo motivo de espanto até para o próprio Deus.
Aliás, no poema é Ele mesmo que toma a palavra, apresentando seu ponto de vista sobre a frágil e pequena esperança. Em vez de fornecer fórmulas prontas, tão ao gosto do público de hoje, o livro representa um convite à contemplação, ajudando os leitores a mirar a própria existência segundo o olhar de Deus, sem censurar suas dores, dificuldades e desafios.
Partindo de comovente interpretação das parábolas da ovelha desgarrada, da dracma perdida e do filho pródigo, o autor chega à espantosa conclusão de que o primeiro a ser desafiado pela esperança é o próprio Deus. Renunciando à Sua onipotência, Ele deposita sua esperança no homem – em cada um de nós –, ansiando que decidamos livremente retornar à casa do Pai. Foi para nos atrair a Si que Ele mesmo veio ao nosso encontro e aceitou submeter-Se a nossos caprichos e até mesmo a nossa maldade. E ao final das contas é este Seu primeiro movimento, que precede qualquer iniciativa ou mérito nosso, que nos permite prosseguir esperançosamente o caminho da vida.
Não pretendemos apresentar aqui o resumo completo de um livro em tantos aspectos rico e surpreendente: desejamos, apenas, formular um convite à leitura pessoal da obra, exemplificando como as reflexões propostas pelo autor lançam novas luzes sobre questões acerca das quais muitas vezes não sabemos o que pensar.
Concluímos ressaltando que Charles Péguy oferece uma resposta original e instigante ao chamado para testemunharmos a todos as razões de nossa esperança. Por tudo isso, e também pela beleza do poema, O Pórtico do Mistério da Segunda Virtude certamente constitui uma boa forma de concluir o trabalho proposto pelo Papa Francisco neste Jubileu da Esperança.



