Família, o que é isso mesmo?

Segundo a nova legislação em vigor, mulheres agora podem fazer laqueadura e homens vasectomia sem precisar de consentimento de seus parceiros. Bem, sem entrar no mérito da moralidade desses procedimentos cirúrgicos, dois aspectos chamam a atenção. Primeiro, a ironia de se adotar essas medidas justamente quando há uma pressão para não se ter filhos hoje. Segundo, nota-se que mais um passo é dado em se acentuar o individualismo moderno e, consequentemente, em se dissolver a família. De fato, até poucas décadas atrás, “dissolver a família” significava que um homem e uma mulher dissolviam os laços do Matrimônio, sob consternação geral, todos ainda conservando a ideia geral do núcleo familiar e de seu significado para a sociedade.

Aceitava-se o preceito do Gênesis de que “por isso deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (2, 24). Como Jesus enfatizou, esse preceito vem antes de qualquer lei positiva (Mc 10,6-8), pois deriva do estado de coisas na natureza: a reprodução sexuada em todos os organismos superiores. É algo tão natural que o Matrimônio foi o último dos sacramentos a ser considerado como tal, por volta do ano 1200.

Agora, porém, o natural gradualmente deixa de sê-lo, e o que era alternativo, excepcional (arranjos familiares alternativos, que sempre existiram), passa a ser valorizado de modo igual ao tradicional arranjo homem-mulher. O foco é no gosto individual: “o que importa é ser feliz”. A sociedade, a moral (e, por tabela, a legislação) não mais podem interferir nas escolhas de dois indivíduos adultos. Dois? Até isso está em xeque. Voltando ao ponto inicial, a reprodução deixa de ser a decisão de dois para estar centrada no indivíduo. Concepção sem o pai já é tecnologicamente possível; o próximo passo é o útero artificial – não haverá mais homem nem mulher, mas a pessoa de carreira, dentro do mundo capitalista contemporâneo.

Não desejo aqui assumir uma postura de saudosista ranzinza, que se limita a criticar os que fogem à “moral e os bons costumes”, muito menos ceder ao oportunismo político daqueles que dizem defender a família. Há muito o que se lamentar de tempos passados, como a permissividade da sociedade em face de violências sofridas pelas mulheres. A atitude aqui não pode ser outra senão a do testemunho positivo. Em meio à desorientação geral, a presença de famílias cristãs, que constroem suas casas sobre a rocha e criam seus filhos para serem testemunhas da Boa Nova proclamada por Jesus, é mais necessária do que nunca.

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